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Economista Pavan Sukhdev defende que a Economia Verde é mais inclusiva e produtiva

Um dos principais especialistas no mundo em sustentabilidade, Pavan Sukhdev defende que a Economia Verde e Inclusiva pode criar mais postos de trabalho, com menor impacto no meio ambiente

Rachel Vita (rachel.vita@hotmail.com)
Atualizado em 20/07/2017 16:19:20

Um novo valor deve ser atribuído ao que é produzido no mundo. O capital ambiental e também social precisam entrar nessa conta. Uma matemática que prevê os custos indiretos, em que o “poluidor” acaba taxado e quem busca a lógica da economia circular, verde e inclusiva, incentivado. Quem defende é o economista indiano Pavan Sukhdev, um dos principais especialistas em sustentabilidade do mundo. 

Para Pavan, não há mais tempo a perder. A Conferência do Clima (COP de Paris), que será realizada, em dezembro, na capital francesa, pode ser a última oportunidade para os líderes mundiais definirem ações para controlar as emissões dos gases do efeito estufa. E assim tentar frear os impactos causados no planeta pelas mudanças climática.  

Economista Pavan Sukhdev defende que a Economia Verde é mais inclusiva e produtiva (Foto: Acervo Pessoal)

Ao ser convidado para o Fórum Agenda Bahia - Pavan Sukhdev abre o seminário Baixo Carbono: A Nova Economia Mundial, na próxima terça-feira  -, disse que o Brasil tem prioridade. Na entrevista ao CORREIO, feita por e-mail, detalha por quê. “O Brasil é verdadeiramente a Capital Global do Capital Natural”, explica. O especialista defende que esse “valor” seja contabilizado na economia do país. “O Brasil tem uma grande oportunidade e responsabilidade de liderar o debate sobre a transição para uma economia verde inclusiva”, destaca. 

Por que o senhor acredita que a economia de baixo carbono é a resposta para as futuras gerações? 

A atual economia, intensiva no uso do carbono e recursos naturais, com obsessão pelo PIB, também é chamada de “bown economy” ou “economia marrom”. Ela cria uma série de custos ocultos, chamados de externalidades, que causam significativas disparidades sociais e riscos  ambientais. Estamos  empurrando as fronteiras do planeta para além do limite e colocando em risco todo o futuro. Apesar de décadas de crescimento do PIB, ainda temos 800 milhões de pessoas indo dormir com fome e migrações em larga escala. Precisamos de uma economia diferente: com energias renováveis e novas tecnologias, eficiente no uso dos recursos, regulada para prevenir grandes externalidades e muito mais equitativa e inclusiva. Chamo esta economia de “economia verde e inclusiva”. 

Como o modelo atual e global de economia pode migrar para uma economia de baixo carbono? 

A transição da colapsante “economia marrom” para uma estável  e inclusiva economia verde, uma economia de permanência, é um desafio que necessita de muitas forças alinhadas. Tomadores de decisão do G-20 terão que realinhar incentivos, taxas e regulações, incluindo o reporte de performance, de alavancagem, além da taxação de empresas. Os líderes empresariais terão que repensar seus modelos de negócios na direção da Corporação 2020: criando riqueza para os “shareholders” (acionistas) e para os “stakeholders” (público estratégico para as empresas), ao mesmo tempo em que não criem danos para a sociedade. 

 Quem vai pagar a conta da transição para a economia de baixo carbono?

A formação de Capital Bruto no mundo é de 20% do PIB. Há US$ 15 trilhões de dólares em investimentos públicos e privados, em sua maioria no velho modelo de economia. Alguns são ativos  irrecuperáveis, como investimentos em reservas de óleo e gás que se tornam sem valor pela regulamentação de emissões ou pelos baixos preços do óleo. Os custos ocultos da “economia marrom” (custos com saúde, recuperação de danos de tempestades e furacões, escassez de água fresca, etc) já estão sendo pagos pelos contribuintes. Não há “faturas adicionais” para uma “economia verde e inclusiva”. Investidores e contribuintes apenas precisarão parar de investir e gastar com a “economia marrom” e redirecionar recursos.

Qual o principal obstáculo para o sucesso dessa transição? 

Vejo dois obstáculos principais. Primeiramente, os interesses consolidados. Os atuais segmentos da “economia marrom”, como a indústria global de óleo & gás, trabalham pela manutenção do “status quo”, apesar de terem conhecimento dos devastadores custos ocultos dos combustíveis fósseis. Eles subornam políticos e burocratas para decidirem contra o interesse público; eles pagam por pesquisas tendenciosas e falsas; eles fazem publicidade para persuadir cidadãos de que a resposta é “Carvão Limpo” ou que as “Areias Betuminosas de Alberta”, no Canadá, são uma grande bênção para a humanidade. Isto é um absurdo, que se acredita seja devido a um segundo obstáculo: a educação. Não há suficiente “propaganda de interesse público” para combater a publicidade dos interesses consolidados, não há ensino suficiente nas escolas e universidades para explicar os riscos que estamos assumindo e as reais escolhas econômicas que dispomos como sociedade. Tudo isso é parte do obstáculo “Educação”. 

O senhor fala em custos ocultos dos combustíveis fósseis... 

Os custos ocultos do uso de combustíveis fósseis são os incomensuráveis custos da mudança climática. É um enorme prejuízo econômico e um dramático deslocamento social com o aumento da frequência e da intensidade de tempestades, ciclones e secas devido a mudanças climáticas causadas pela emissão dos gases do efeito estufa.

 Atualmente, produtos sustentáveis são mais caros. Como inverter essa lógica? 

 Alguns custos são visíveis para os consumidores, alguns invisíveis, mas eles são pagos indiretamente por ambos. Por exemplo, os custos relativos à produção de hortaliças com o uso de pesticidas e fertilizantes estão contidos no preço do produto na prateleira do supermercado. Os custos escondidos ou invisíveis são as perdas de saúde, os custos médicos devido aos pesticidas, a perda de minhocas e da fertilidade do solo e assim por diante. Esses custos são parte das despesas de comprar hortaliças, mas não são cobrados pelo supermercado, dessa forma o consumidor é enganado. Mas, devido ao obstáculo “educação”, o consumidor não sabe disso. Acredito no princípio direcionador em que o “poluidor paga” – seja por meio de impostos pela poluição, ou taxas   específicas, ou por sua não inclusão em programas de incentivos a não poluidores, a negócios sustentáveis. 

O senhor diz que o modelo de Produto Interno Bruto está ultrapassado. Como um novo modelo pode ser apresentado?  

PIB é estimativa do valor final dos bens e serviços produzidos em um país. Ele não leva em conta a depreciação do “Capital Natural” empregado e as enormes mudanças na saúde do ecossistema e dos minerais de uma nação não são contabilizadas. Mudanças nos capitais humano e social não são contabilizadas,  e o aporte de recursos em educação é tratado apenas como mais uma despesa, e não como investimento no “Capital Humano”. Não estamos medindo a verdadeira riqueza nacional. Isso pode ser mudado pelo emprego da contabilização da “Riqueza Inclusiva” ou “Riqueza Abrangente” ou pela contabilização do PIB ambientalmente ajustado. Devemos considerar tanto os acréscimos quanto os decréscimos  em todas as dimensões da riqueza pública, porque elas contribuem para o bem-estar social. 

Como o Brasil se encaixa neste contexto? 

O Brasil é verdadeiramente a Capital Global do Capital Natural, por causa de sua grande massa de terra, suas florestas, ativos no subsolo e o maior sistema de água doce do mundo: a Amazônia. O Brasil pode e deve integrar o Capital Natural em suas Contas Nacionais, utilizando o mais recente Sistema de Contabilização Ambiental e Econômica das Nações Unidas (SEEA). Além disso, o Brasil tem uma grande e talentosa geração jovem e foco considerável sobre a educação, por isso deve também integrar nas Contas Nacionais esta criação contínua de “Capital Humano”.  

O Brasil pode assumir uma posição de liderança no debate global sobre uma Economia de Baixo Carbono?   

O Brasil tem uma oportunidade e a responsabilidade de liderar o debate sobre a transição para uma economia verde inclusiva. Florestas e as emissões de carbono do agronegócio são uma grande parte das emissões globais e o Brasil tem massa crítica suficiente em ambos para liderar o diálogo sobre um regime de carbono terrestre mundial: indo além do REDD + (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação). O Brasil pode ser um participante-chave no mercado global do futuro.

De onde virão as oportunidades para executivos, trabalhadores e também consumidores numa Economia de Baixo Carbono?  

Um modelo econômico está em estudo pela Comissão da União Europeia, através da evolução de suas propostas de Economia Circular. Conceber e gerir a produção de uma forma que otimiza materiais, evita as emissões e “fecha o ciclo” para resíduos orgânicos e técnicos é um meio de criar novos e muitos mais postos de trabalho que no antigo modelo industrial linear do “ tomar-fazer-dispor” (take-make-waste), que é eficiente em termos de mão de obra, em um caminho estreito, mas muito ineficiente no uso de recursos. O Brasil poderia explorar oportunidades na agricultura sustentável e em uma variedade de tecnologias e produtos: projetos de transformação de resíduos em energia; fabricação de carros elétricos, usando a tecnologia tornada pública pela TESLA; aviões a biodiesel e extração sustentável e certificada de madeiras e produtos florestais.

Quais as suas expectativas para a Conferência do Clima, em Paris? Existem possíveis resoluções que poderiam impactar as futuras gerações? 

A COP de Paris é, provavelmente, a nossa última oportunidade para uma aliança entre governos, empresas e sociedade civil, com o marco regulatório internacional para controlar e limitar as emissões de Gases de Efeito Estufa. Há regulações necessárias para as emissões de energia e florestais (os chamados “carbono marrom” e “carbono verde”). Se perdermos essa chance e a credibilidade dos governos, a responsabilidade passa para os cidadãos e as empresas. 

A China e os Estados Unidos, neste momento, são aliados ou obstáculos para a Economia de Baixo Carbono?  

Os compromissos já assumidos pela China e os EUA mostram seus presidentes como aliados no processo de transição para uma economia verde inclusiva. No entanto, as políticas nacionais nas duas nações não estão ainda alinhadas à visão compartilhada pelos países, e há interesses consolidados dentro dos EUA que são obstáculos. Por exemplo, 97 % das exportações do Canadá de petróleo bruto vão para os EUA (33% das importações). A extração de petróleo canadense, principalmente a partir das areias betuminosas de Alberta, é muito intensiva no uso de energia, é altamente poluente e resulta em gigantescos lagos tóxicos de águas residuais que destroem a biodiversidade. 

O senhor acredita que, além da proposta de criação de novas regras econômicas, os governos deveriam dar o primeiro passo, com iniciativas como programas de compras públicas?

Compras públicas verdes (energia, edifícios, carros, etc) através de políticas é uma forma eficaz de sinalizar para o mercado que uma grande fonte de demanda virou “verde” e representa uma oportunidade de negócios sustentáveis. 

O Deutsche Bank lhe trouxe ferramentas ou inspiração para desenvolver o estudo TEEB? 

Quando entrei para o Deutsche Bank, em 1994, já estava pensando sobre os valores invisíveis não mercantis da natureza, que ninguém parecia reconhecer, e sobre a importância de uma economia livre de resíduos. Os meus colegas no banco sempre apreciaram meus interesses incomuns e não se surpreenderam quando o meu “hobby” da economia ambiental finalmente resultou na minha nomeação como líder do TEEB e da Iniciativa Economia Verde do PNUMA. Tomei licença sabática de dois anos do Deutsche Bank e, finalmente, deixei o banco em 2011 para assumir uma bolsa de estudos na Universidade de Yale e escrever Corporação 2020. 

O nascimento de suas filhas influenciou em sua decisão de deixar o Deutsche Bank e perseguir os objetivos relacionados à Economia Verde?  

Minhas filhas nasceram em 1988 e 1990, enquanto estava trabalhando para o ANZ Bank, na Índia. Minha filha mais velha, Mahima, gostava de visitar a natureza selvagem desde que  tinha 3  anos, e minha filha mais nova, Ashima, era entusiasta da “reciclagem” desde que  tinha 3! Então, no momento em que entrei no Deutsche Bank,  em 1994, eu já estava pensando muito sobre a importância de uma economia verde. 

Como os pais podem preparar seus filhos para os desafios que se apresentam no planeta, como as mudanças climáticas?
Educação é um dos dois “obstáculos” mais importantes para uma economia verde inclusiva. Assim, exorto TODOS os pais a se familiarizarem com essas ideias e modelos, pois são do mundo dos seus filhos. É tamanha a responsabilidade dos pais de educar as crianças sobre os maiores riscos e oportunidades do futuro quanto é a responsabilidade de escolas, universidades e governos. 

Qual a importância de participar de um debate como o proposto pelo Fórum Agenda Bahia?  

Estou ciente da importância histórica e demográfica da Bahia. Salvador foi a primeira cidade nos tempos coloniais, em seguida, a capital, e a terceira maior no Brasil. Estou ansioso para essa visita.

As regiões mais vulneráveis frente às mudanças climáticas no Brasil são a Amazônia e o Nordeste, de acordo com Economia das Mudanças Climáticas no Brasil. A Bahia tem um extraordinário capital natural, é a principal economia do Nordeste, mas também uma das regiões mais secas e pobres do país. Qual o maior desafio para reverter este quadro? 

Para esta discussão interessante, primeiro você deve assistir a minha palestra no Fórum Agenda Bahia! 

 O Estado da Bahia tem a terceira maior cidade do Brasil (Salvador), a segunda maior baía do mundo (a Amazonas Azul, como é conhecida por seu tamanho e biodiversidade), plantações de eucaliptos e vai ser o primeiro estado a ter um complexo que mistura geração de energia eólica e solar. Como pode o estado caminhar rumo a uma Economia de Baixo Carbono?  

Quando você explora as oportunidades que a “economia verde inclusiva” apresenta para um país tão rico em capital natural e humano, como o Brasil, incluindo a Bahia, sem dúvida,  você vai encontrar muitas oportunidades para novos modelos de negócios e novas políticas  governamentais  e mecanismos que podem ajudar e promover essa transição. Essa transição precisa ser conduzida pelos líderes de negócios, por isso, há também a necessidade de um novo modelo, responsável e ético de negócios - o que eu chamo de Corporação 2020 !

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