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Noruega e Austrália: dois bons exemplos de sustentabilidade para o Brasil

Paradoxo norueguês é semelhante ao brasileiro: equilibrar economia dependente do petróleo com crescimento sustentável

Perla Ribeiro e Wladmir Pinheiro (redacao@correio24horas.com.br)
Atualizado em 04/07/2017 13:01:02

O petróleo, que movimenta grande parte da economia no mundo, deu à Noruega um desafio parecido ao do Brasil: como fazer a transição para uma economia mais limpa, invertendo a curva de investimentos do que hoje é um dos maiores pesos na receita dos dois países. A produção de petróleo hoje corresponde ao maior emissor de gases do efeito estufa do país nórdico, junto com o setor de transporte e osetor industrial, um total de 70% das emissões.

Por conta do seu tamanho, pouco mais de 5 milhões de habitantes, a Noruega tem como principal desafio reduzir as emissões de gás dentro do território. “A carga tributária sobre alguns setores já é muito alta e alguns desses impostos sobre a emissão de gases já estão embutidos”, explica Olav Lundstol, consultor de energia da Embaixada da Noruega.

Lundstol: "Noruega tem histórico de investimento em sustentabilidade" (Arisson Marinho/CORREIO)

Como estratégia, a Noruega utiliza as compensações para emissões de gases previstas pelo Protocolo de Kyoto, em que compra cotas de créditosde carbono de outros países que emitem menos gases para manter-se dentro da meta prevista pelos protocolos ambientais assinados.

Embora as emissões de gases resultantes da exploração e produção do petróleo tenham aumentado, em torno de quase 100%, desde a década de 1990, quando o país participou da Rio-92, o setor industrial e de transporte tem conseguido diminuir os índices de emissões.

O alto grau de investimento em pesquisa e desenvolvimento tem tornado a indústria norueguesa cada vez mais eficiente, ou seja, cada vez menos poluidora. O custo tem sido absorvido dentro do próprio mercado e também a partir de investimentos dos governos e setor privado. Já o setor de transporte tem investido nos chamados carros elétricos. Desde o primeiro carro alimentado por fonte limpa, há 30 anos, a Noruega conta hoje com aproximadamente 50 mil veículos que contribuem para a redução de gases resultantes da queima de combustíveis.

Virada da água

Da mesma forma que a Noruega tratou a questão do petróleo, a Austrália também aproveitou um momento de crise hídrica, quando foi acometida por uma seca que durou dez anos, para mudar a forma com que tratava a sua gestão hídrica, adotando uma política eficiente do líquido precioso.

“A partir dessa seca, eles fizeram uma revolução na forma como veem e tratam a água. A diferença é que lá a água tem uma questão econômica envolvida, então tem um mercado de águ que não existe no Brasil”, explica o gerente nacional de água da The Nature Conservancy, organização presente em 35 países com a missão de conservar as terras e águas do planeta, Samuel Barrêto.

Banho contado

Barrêto: "Austrália fez uma revolução na forma como tratam a água" (Arisson Marinho/CORREIO)

Diferentemente de São Paulo, que demorou a administrar a crise hídrica, a Austrália não só assumiu de imediato o problema da escassez de água como passou a envolver toda a população na busca de soluções para conter a situação. “No caso da região Sudeste, por muito tempo se falava que não tinha problema, que não tinha crise hídrica. Lá não, até criaram mecanismos como uma ampulheta que dura 4 minutos, que é o tempo que você tem para tomar seu banho”, informa.

Eles também investiram no reuso de água, possuem uma modelagem matemática para apontar qual o risco dos impactos das mudanças climáticas e ainda licença pelo uso da água, além de um sistema eficaz de gestão dos recursos hídricos.

Eficiência

São Paulo foi quem mais sofreu como drama da falta de água desde o ano passado. Mas a crise hídrica não é um problema localizado. Segundo o especialista Samuel Barrêto, no Brasil, há uma falsa imagem de que a água é um recurso abundante. “A maior parte está disponível na Amazônia, onde há uma menor concentração populacional.

Nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste, que têm mais de 80% da população brasileira, temos apenas 16% da água disponível e boa parte não é apropriada ao uso”, alerta Barrêto.

No caso de Salvador, Barrêto diz que a demanda hídrica será de 17,3 metros cúbicos por segundo em 2025. “O Plano Municipal aponta que até 2020 a demanda não supera a oferta, mas o estudo não ponderou as mudanças climáticas”, alerta.

Apesar do risco de escassez, ele destaca que há um campo de oportunidades. “Poderiam gerar empregos, seja no saneamento, no reuso da água, na infraestrutura verde, promovendo, além dos empregos, o desenvolvimento regional e uma solução estruturante de longo prazo”, informa.

O gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da Coelba Antonio Brito ressaltou a importância das pesquisas para aumentar a eficiência energética no Brasil. “É preciso desenvolver redes inteligentes capazes de reduzir perdas e aumentar a eficiência do processo”, defende. O desafio é garantir a produção com menor impacto ambiental.

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