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Armando Avena

Armando Avena: a Europa acuada

(armandoavena@uol.com.br)

Saltei do metrô na estação Hotel de Ville vindo dos Champs-Élysées. Pretendia, como qualquer parisiense, atravessar a ponte de Arcole para aguardar, num dos bares de calçada de Saint German de Prés, o interminável dia de quase Verão em Paris transformar-se em noite. De repente, o inusitado: mais de uma dezena de viaturas de polícia fechava o quarteirão em frente à Catedral de Notre Dame e dezenas de policiais fortemente armados, mas visivelmente nervosos, revistavam carros e pessoas e corriam de um lado para outro em busca de terroristas. 

Pelo tamanho do aparato envolvido, imaginei um grande ataque do terrorismo islâmico tão comum nos dias de hoje nas grandes capitais da Europa e tive certeza ao saber que Notre Dame tinha sido cercada e que centenas de turistas ficaram presos, alguns em pânico, outros rezando, até que a polícia os retirasse. 

Não era, no entanto, um ataque terrorista de grandes proporções, com homens-bombas ou carros atropelando gente nas pontes, como fazia crer o aparato mobilizado, mas um incidente no qual um homem agrediu um policial com um martelo e foi contido com tiros nas pernas.

 Em outros tempos, seria um incidente quase banal, mas na era do terrorismo islâmico, todo ataque pode ser potencialmente letal e isso estava estampado na cara de cada policial e de cada pedestre.

Não poderia ser diferente num país em que os ataques terroristas já fizeram 239 mortos desde 2015 e que está continuamente em estado de alerta máximo. Mas o que o incidente nas imediações de um dos maiores símbolos de Paris demonstra é que a Europa está acuada, ou pelo menos temerosa do que pode ocorrer a cada dia, a cada momento. A cada ataque, seja em Paris ou em Londres, os líderes políticos apressam-se em declarar que nada vai mudar, que tudo continuará como antes e que a vida segue. 

Mas nada é como antes na Europa e o que se vê são batalhões de policiais nas ruas, uma população assustada e denúncias que a todo momento mobilizam as brigadas antiterror e quebram o cotidiano das ruas. O Estado Islâmico acuou a Europa e o fez usando a mais potente arma do capitalismo: a espetacularização. Cada atentado é um espetáculo divulgado à exaustão em todo mundo e atrai jovens frustrados e sem futuro e o terror do islamismo fundamentalista foca sua ação na destruição dos símbolos, especialmente nos valores que são os pilares do mundo ocidental: a liberdade, a laicização, a cultura e as artes e os direitos individuais. 

A França é a pátria desses valores e inaugurou o século das luzes, por isso o ódio dos extremistas se volta contra ela. Com a decapitação de prisioneiros em frente às câmeras de TV, com a destruição de monumentos que são símbolos da cultura humana, com a banalização da morte, com a arregimentação de terroristas naturais de cada país, o Estado Islâmico pretende dinamitar os pilares da sociedade ocidental. E se isso não for contido de alguma forma, o Ocidente estará em perigo. 

É provável que esse islã radical, que nada tem a ver com o verdadeiro islamismo, tenha sido fortalecido pelo próprio Ocidente, que tenha origem na política colonialista e depois na invasão americana ao Iraque patrocinada por George Bush e, talvez, na política de Barack Obama que buscou outra forma de ação na Síria, estimulando grupos contrários ao governo, na vã esperança de deixar que os sírios resolvessem seus próprios problemas. Mas especular sobre isso agora é inútil, o povo sírio não pode resolver mais nada, pois está fugindo da guerra ou sendo dizimado. 

A única saída plausível, antes que o uso da força leve o mundo a um conflito de grandes proporções está na diplomacia, na negociação com a intermediação da ONU para assim pôr fim à guerra na Síria e na união dos países no combate total ao terrorismo nos territórios ocupados pelo Estado Islâmico. Mas, infelizmente, o presidente dos Estados Unidos, que deveria ser o artífice dessa nova concertação mundial, está mais interessado em bravatas inconsequentes, numa política antiambientalista e em vender armas à Arábia Saudita.

A verdade é que, enquanto se mostram incapazes de negociar a paz, os líderes mundiais percebem que não há mais paz nas suas cidades-monumentos, que os turistas estão diminuindo, que milhares de refugiados dormem nas suas calçadas, não porque desejem mudar-se para a Europa, mas porque morrerão em seus países se não o fizerem. 

O dilema da Europa acuada está entre agir imediatamente ou ficar defensivamente à espera de um grande ataque que, se nada for feito, fatalmente virá. É, mas por enquanto Paris ainda segue sendo Paris, por isso, sento-me no Café du Flore, em Saint German de Prés, à espera de que o espírito de Jean Paul Sartre ou de Albert Camus nos ilumine.

Ranking das cidades baianas
A Bahia tem quatro cidades listadas entre as melhores cidades brasileiras: Vitória da Conquista, Salvador, Camaçari e Feira de Santana, segundo pesquisa da consultoria Macroplan, divulgada no mês passado e referente a 2015. Vitória da Conquista lidera o ranking das melhores cidades baianas, ocupando a 63ª posição entre as 100 melhores cidades brasileiras, com índice 0,655. Salvador ficou em segundo lugar, ocupando a 67ª posição com pontuação de 0,555. Petrolina, em Pernambuco, é considerada a melhor cidade do Nordeste para se viver, ocupando o 45° lugar no ranking entre as 100 melhores cidades brasileiras, seguida de Fortaleza, Vitória da Conquista e Salvador. Feira de Santana teve o pior desempenho entre as cidades baianas e caiu da 59ª para 95ª posição, enquanto Camaçari ficou em 83° lugar. A pesquisa é baseada em quadro indicadores principais com as seguintes ponderações; educação e cultura – 35,3%; saúde – 35,3%; infraestrutura e sustentabilidade – 20,6%; segurança – 8,8%. A pesquisa completa está no portal Bahia Econômica.

A Bahia e o projeto avançar
O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) continua em andamento e o governo Temer tinha, antes do tsunami da JBS, planos para mudar a logomarca para Projeto Avançar.

No mês passado, o governo federal liberou R$ 3,15 bilhões do Orçamento de 2017 para os ministérios tocarem as obras do PAC, mas a equipe econômica definiu que o principal foco para o uso do dinheiro nesse momento seriam as obras que podem ser concluídas até 2018. Embora o trecho inicial da Fiol – Ferrovia Oeste-Leste, que liga Ilhéus a Caetité, pudesse ser concluído rapidamente, se houvesse recurso, a obra ficou de fora com o governo Temer privilegiando recursos para a Ferrovia Norte-Sul, cuja conclusão está prevista até o final de 2018. 

As obras da Fiol se arrastam há anos e o governo da Bahia tenta viabilizar o projeto através de uma PPP que envolveria investimentos chineses. A montagem dessa PPP vai demorar, especialmente com o quadro político atual e o ideal seria exigir que a obra fosse contemplada nos parcos recursos que estão sendo liberados. 

Temer na corda bamba
No momento em que escrevo está coluna ainda não se sabe o resultado do julgamento da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral. O Brasil continua na expectativa, a economia segue esperando que não ocorra algum aventureirismo político e o presidente Michael Temer parece cada vez mais com o mordomo de um filme de terror que ninguém sabe como acaba.

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