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Armando Avena

Armando Avena: na Bahia, o agro é pop, o agro é tech, o agro é tudo

Armando Avena (armandoavena@uol.com.br)
Atualizado em 20/01/2017 21:49:45

Houve um tempo em que a Bahia colocou toda a ênfase do seu crescimento econômico na indústria e o investimento nesse setor parecia ser o caminho para o desenvolvimento. Hoje, no entanto, a indústria está reduzindo sua importância na economia baiana e pode-se  dizer que o futuro da Bahia está no agronegócio. E isso apesar da seca que periodicamente atinge nosso semiárido. 

Na verdade, há um movimento dialético, pois, ao mesmo tempo em que é nítido o processo de desindustrialização, é igualmente mensurável o aumento da agroindustrialização na economia baiana. A indústria de transformação, antes o carro chefe da nossa economia, representou em 2004 cerca de 16% do PIB baiano, no entanto, hoje representa pouco mais de 7% do nosso produto. Enquanto isso, o PIB do agronegócio só faz crescer, com movimentos pendulares por causa da seca, mas com tal magnitude que já é maior do que o PIB total de todos os estados do Nordeste, a exceção de Pernambuco, Ceará e Maranhão. 

Infelizmente, não temos estatísticas plenamente confiáveis sobre o setor, já que a Superintendência de Estatísticas e Informações calcula apenas o PIB do setor agropecuário, sem registrar seus desdobramentos na área industrial, de insumos e nos chamados agrosserviços. O PIB do agronegócio não registra apenas a produção agrícola e agropecuária, que representa cerca de 11% do PIB baiano, ele registra também a produção de fertilizantes e adubos, muitas vezes localizadas nas cidades, registra a energia elétrica gerada pelos ventos nas eólicas, pelos biocombustíveis e pelas barragens, bem como o etanol gerado pela cana-de-açúcar. E esse PIB se desdobra nos setores mais diversos como madeira e mobiliário, celulose, papel, indústria têxtil, calçados, vestuário e dezenas de outros. 

E isso sem contar os serviços de comercialização, distribuição  e logística dos produtos agropecuários e agroindustriais. O último dado disponível, de 2009, indicava que o agronegócio respondia por cerca de 24% do PIB baiano, mas nos últimos seis anos o crescimento foi de tal ordem, que atualmente estima-se em 28% essa participação, o que representaria alguma coisa em torno de R$ 70 bilhões. E isso com muito mais emprego do que o gerado na indústria de transformação. Com um rápido olhar pelo território baiano é possível identificar o potencial do agronegócio, gerido com alta tecnologia e produtividade, e ver a produção de grão no Oeste, a celulose no Extremo Sul, fruticultura, vinho, beneficiamento de alimentos, leite, aves, fertilizantes, têxteis, chocolates, doces e dezenas de produtos cuja origem está no campo.

Decididamente, na Bahia o agro é tech, o agro é pop, o agro é tudo, mas, infelizmente, os poderes públicos ainda não se deram conta de que esse potencial precisa de apoio, especialmente no que se refere à infraestrutura. 

As dificuldades do setor na Bahia são gigantescas, com problemas de logística de toda ordem, especialmente no que refere às más condições das estradas, com restrições ao crédito, roubo de cargas, invasão de terras, sistema tributário inadequado e deficiência nos processos de comercialização e armazenagem, só para citar alguns. E, como se não bastasse, não existe no governo federal qualquer política focada e continuada de convivência com a seca. 

Na Bahia, as perspectivas de crescimento da indústria de transformação tradicional são pequenas no curto prazo e o setor de serviços, embora pujante, sempre caminha a reboque dos setores produtivos. É hora, portanto, do setor público e do setor privado abrirem os olhos para o potencial do agronegócio e reconhecer que na Bahia, o agro é pop, o agro é tech e representa o futuro.

Fecomércio-BA avalia a economia brasileira
O economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio – CNC e ex-diretor do Banco Central, Carlos Thadeu de Freitas Gomes, disse, em palestra que realizou na Fecomércio-BA, ontem, que as medidas adotadas pelo governo Temer vão na direção correta, mas lembrou que o empresariado brasileiro está endividado e que os bancos preferem comprar títulos do governo, sem risco, do que renegociar as dívidas com juros menores. 

Thadeu propôs que o governo use parte dos recursos dos próprios bancos, retidos no depósito compulsório, para financiar essa renegociação a juros menores. O economista disse também que as concessões e privatizações não estão deslanchando porque o investidor estrangeiro tem medo do risco cambial, ou seja, da desvalorização do dólar, e que será necessário mais segurança nessa área para deslanchar os investimentos. 

O presidente da Fecomércio-BA, Carlos de Souza Andrade, que promoveu o evento, também apoia as medidas que vêm sendo adotadas, mas disse que é preciso fazer uma reforma política para reduzir os gastos da Câmara, Senado, Assembleias e Câmara de Vereadores e que o governo precisa dar prosseguimento às reformas previdenciária, trabalhista e tributária.

João Ubaldo e a nossa identidade
Na próxima segunda-feira, dia 23 de janeiro, João Ubaldo estaria fazendo 76 anos. Lembro que em seu discurso de posse na Academia de Letras da Bahia, dois anos antes de morrer, ele deu uma definição única da Bahia. Após dizer que em terras baianas deu-se uma mistura esplendorosa e fecunda, original e única de raças, crenças, costumes, falas, hábitos, gostos e aparências e de lembrar o quanto isso é precioso e raro e forte e delicado ao mesmo tempo, ele definiu a identidade baiana. “Somos os detentores — e temos o dever de também ser os guardiães — dessa magnífica singularidade. Não somos brancos, negros ou índios; somos baianos. Não pertencemos, no maior rigor da palavra, a nenhuma religião, nem mesmo somos ateus; somos baianos. Não pretendemos ser melhores que ninguém. Mas somos baianos”. 

Não sei se isso é bom ou ruim, mas sei que somos baianos, e que João Ubaldo faz uma falta enorme ao Brasil e à Bahia.

Fuzuê na política baiana

Na política baiana, o mês de fevereiro vai ser tão animado quanto o Carnaval. Já no dia 1º de fevereiro ocorre a eleição para a presidência da Assembleia Legislativa. Tudo indica que o PSD e o PP vão se unir, apoiando como candidato o deputado Ângelo Coronel ou o deputado Luiz Augusto e, até o momento, o atual presidente Marcelo Nilo insiste em manter sua candidatura, tentando a reeleição pela sexta vez. 

Se esse cenário perdurar, a base de apoio do governador Rui Costa na Assembleia sairá da disputa dividida, qualquer que seja o resultado. A disputa exaltou os ânimos e, levada às últimas consequências, será impossível manter uma base unida, sem que na mesa diretora estejam representados, o PSD e o PP, de um lado, ou caso contrário, o partido do atual presidente, do outro. A disputa levará invariavelmente à divisão da base aliada. 

A oposição também está numa sinuca de bico. Contrária a reeleição, a bancada oposicionista sairá mal na foto se apoiar a sexta reeleição do presidente Marcelo Nilo, mas se, pelo contrário, apoiar o candidato do PSD, Ângelo Coronel, estará cacifando o senador Otto Alencar, hoje uma das principais lideranças políticas do Estado e peça fundamental na eleição de 2018 ou mesmo o PP que também será peça importante no processo. Se o governador Rui Costa não intervir e juntar toda sua base no mesmo bloco, vai ter muita animação na Assembleia. 

Mas o carnaval vai continuar, afinal, o cordão da Lava  Jato promete para a primeira quinzena de fevereiro a divulgação dos depoimentos dos executivos da Odebrecht e o início da delação da Camargo Corrêa, que não passa ao largo da Bahia. Pois é, em fevereiro vai ter Fuzuê na política baiana.

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