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Armando Avena

Armando Avena: Odoyá e a economia

Odoyá recebeu os presentes e as homenagens da Bahia e muitos foram os pedidos para que 2017 seja um ano melhor do que aquele que passou. O ano de 2016 não teve as graças da nossa Iemanjá, e, pelo menos no que se refere à economia, foi abandonado pelos deuses. O PIB da Bahia caiu 4,8% nesse ano fatídico, uma queda de cerca 1% maior que a do PIB brasileiro, segundo dados da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais, que só serão divulgados em março, mas que esta coluna obteve em primeira mão. Somada a queda de 3% registrada no PIB baiano em 2015, a Bahia registra a maior recessão de sua história recente, um baque que derrubou todos os setores da economia.  Em 2016, Oxumarê, que controla a chuva,  e a prosperidade propiciada pelas colheitas, abandonou a Bahia e uma seca de grandes proporções fez  cair o PIB da agropecuária em mais 20% e a safra de grãos teve quebra de 35%. Já Ogum, o deus das ferramentas, repudiou seus protegidos, e a indústria baiana despencou mais de 5%. Não se sabe exatamente qual o deus que protege o comércio na mitologia africana, mas ele não apareceu na Bahia em 2016 e o PIB do comércio caiu mais de 8%, uma queda duas vezes maior que a verificada no Brasil.

Foi um ano difícil, mas ontem, nas águas do Rio Vermelho, Odoyá recebeu com alegria os presentes que lhe foram oferecidos e a deusa emitiu sinais de que 2017 começa sob o signo do crescimento e, embora este economista já não acredite em profecias, nem mesmo as que ele faz, parece que há algo de novo na economia baiana. Na construção civil, por exemplo, são reais as perspectivas de recuperação e as construtoras, embaladas pela queda nos juros, que devem chegar a um dígito até o final do ano, pelo novo PDDU e pela nova Louos, já começam a preparar novos lançamentos.

As obras de infraestrutura em Salvador e as novas áreas de ocupação urbana criadas pelo PDDU também geram novas oportunidades de investimento no mercado imobiliário abrindo perspectivas de um bom ano para o setor. Além disso, os imóveis nunca estiveram tão baratos, mostrando que esse é o momento para comprar. O varejo, que há dois anos sofre com a queda das vendas, ainda não detectou sinais de recuperação, mas recebeu de Iemanjá a sugestão de antecipar a sua liquidação anual, para logo depois das homenagens que lhe foram prestadas no dia 2 de fevereiro. Assim, a Liquida Salvador, que tradicionalmente ocorre após o Carnaval, começa hoje, com desconto e promoções e estimulando os baianos e os turistas a comprar, numa tentativa de capitalizar os lojistas e desovar os estoques mais cedo.

E, assim como no mercado imobiliário, este um momento especial para comprar, pois os descontos chegam até 70%. Na indústria também se ensaia uma débil recuperação e o setor de serviços tem em fevereiro um mês especial com o Carnaval gerando emprego e oportunidades de negócios. A verdade é que Odoyá acena com dias melhores, especialmente se os políticos fizerem o que lhes é devido, e aprovarem as reformas indispensáveis para que o país possa voltar a crescer. E para completar, além da proteção de Iemanjá, 2017 é regido por Oxum, o orixá da fertilidade, do ouro e do dinheiro, o que acena com boas perspectivas para a economia baiana, mas a deusa é caprichosa e só se tornará mais poderosa no segundo semestre do ano.

Odoyá e a política
Odoyá também trouxe ventos novos para a política baiana. E a renovação veio com a eleição do deputado Ângelo Coronel para a presidência da Assembleia Legislativa do estado, pondo fim a um período de dez anos sem alternância do poder. O prefeito ACM Neto e o vice-prefeito Bruno Reis – articulador incansável e um dos responsáveis pelo resultado da eleição – foram fundamentais para a vitória de Coronel, revertendo, inclusive, a posição inicial de parte da bancada da oposição que se inclinava a apoiar o ex-presidente da Casa. Nesse sentido foi, sem dúvida, uma vitória do prefeito ACM Neto.

O governador Rui Costa foi atropelado pela insistência de Marcelo Nilo em se manter no poder e, embora o novo presidente da Assembleia faça parte da base aliada,  o PT, partido do governador, ficou de fora da Mesa Diretora, o que é por si só uma derrota significativa. O ex-presidente da Assembleia apegou-se tanto ao poder que perdeu a chance de negociar uma posição de maior destaque no governo e agora vai ter de contentar-se com a planície ou um cargo de menor expressão. Iemanjá trouxe novos ventos à Assembleia Legislativa que pela primeira vez em dez anos não estará vinculada incondicionalmente e com alinhamento automático ao governo do estado. E a mudança traz um fato novo, afinal, há muito tempo não se via os três principais cargos políticos da Bahia – governador do estado, prefeito de Salvador e presidente do poder Legislativo – em mãos de três lideranças diferentes e não subordinadas.

Concessionárias: queda no faturamento

O faturamento real das concessionárias de veículos na Bahia caiu cerca de 25% em 2016, mais que o dobro da queda média do faturamento do comércio varejista que foi de 12%. A queda no consumo e a restrição no crédito derrubaram as vendas no setor e algumas concessionárias estão trabalhando no limite. Além do setor de concessionárias, as lojas de departamento e as lojas de móveis e decoração apresentaram queda no faturamento superior a 20%. O único setor que apresentou crescimento positivo no faturamento foi de farmácias que, em plena crise, teve um aumento de cerca de 6% no faturamento real. Os dados referem-se  aos últimos 12 meses encerrados em setembro de 2016, mas para o setor de concessionárias, a situação não mudou muito nos últimos três meses do ano. Os dados são da Pesquisa Conjuntural do Comércio Varejista, realizada pela Fecomércio- BA.

Maquiavel e a virtù
Acompanhando de longe a eleição para a presidência da Assembleia Legislativa do estado, lembrei-me de Maquiavel.  O genial fiorentino dizia que para se alcançar e manter o poder é preciso ter virtù, isto é, energia, vigor, talento, capacidade de negociação e gosto pelo poder. Mas lembrava ao Príncipe que na conquista do poder isso só representava 50%, os outros 50% dependiam da sua capacidade de seduzir a Fortuna, a deusa que decide a sorte dos homens. A Fortuna é mulher e está sempre disposta a ser seduzida por aqueles que tem virtù, dizia Maquiavel. Mas, exatamente por ser mulher, ela é volúvel e pode abandoná-lo a qualquer momento, por isso não basta ao Príncipe ter virtù, ele precisa estar atento “às trapaças da sorte e às graças da paixão”.

Em se plantando tudo dá
Quando Pero Vaz de Caminha chegou ao litoral baiano ficou impressionado com a exuberância da vegetação brasileira e vaticinou: em se plantando, tudo dá. Se tivesse ido até a região Oeste,  diria com a mesma ênfase: em se plantando tudo dá, mas com irrigação. Agora, por exemplo, o trigo, uma cultura de Inverno, está sendo plantado no cerrado baiano e com enorme potencial de crescimento. Apesar das altas temperaturas, as variedades desenvolvidas pela Embrapa estão se adaptando perfeitamente ao plantio sob os pivôs de irrigação, especialmente entre os meses de abril e agosto. A área plantada na região já é de três mil hectares e o potencial é superior a 20 mil hectares. Pois é, na Bahia o agro é tech, o agro é pop, o agro é tudo.



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