Editorial: A cor do momento

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  • D
  • Da Redação

Publicado em 23 de julho de 2017 às 05:36

- Atualizado há um ano

Antes do processo de industrialização iniciada no alvorecer da década de 1970, a economia do estado era basicamente mantida pelo cacau produzido no Sul da Bahia. Ao todo, apontaram inúmeros estudos, a produção do fruto chegou a responder por 60% do PIB baiano. Anos depois de ser devastada por pragas, como a vassoura-de-bruxa, a lavoura cacaueira ressurge no horizonte não pelo seu produto inicial, a amêndoa vendida e exportada para todo o mundo, mas pelo final - o chocolate. Enquanto a maioria dos consumidores continua com os olhos postos nas fabricantes belgas e suíças, na Região Cacaueira floresce uma pequena, mas crescente, indústria de chocolates finos. Pouco a pouco, ela vem ganhando mercado com artigos de qualidade equiparável a dos europeu. Daí a nescessidade de políticas públicas de estímulo à produção no Sul do estado.Na maior vitrine para negócio no Brasil - o Festival Internacional do Chocolate, realizado esta semana em Ilhéus -, produtores de cacau e fabricantes discutiram exaustivamente como consolidar a Bahia no mapa dos chamados chocolates de origem, feitos com frutos de uma região específica. A avaliação geral é que essa indústria já vem dando certo por aqui, mas tem chances de crescer ainda mais num futuro próximo.Uma das medidas mais debatidas foi a adoção do percentual mínimo de 35% de cacau para que o produto seja considerado chocolate, cujo projeto de lei tramita no Congresso. Hoje, há produtos abaixo dos 25% em larga escala. Se não cair diante do lobby patrocinado por gigantes mundiais do setor de alimentos, a proposta abre espaço para o crescimento de toda a cadeia produtiva do cacau. Primeiro, por alavancar a venda dos frutos. Segundo, por alinhar os produtos brasileiros ao padrão dos europeus. O que garante aos fabricantes de chocolates de origem uma fatia importante do mercado internacional. Isso por si só não assegura a sustentabilidade da indústria a longo prazo.É preciso também fomentar pesquisas e métodos que levem ao aprimoramento dos frutos cultivados no Sul da Bahia. Qualidade superior, como se sabe, resulta em preços mais altos. Para entender a diferença: atualmente, a arroba (15 kg) de cacau comum é comprada pelas multinacionais que dominam o setor no país por um preço entre R$ 100 a R$ 113. Os fabricantes de chocolate da Bahia chegam a pagar até R$ 200 por uma arroba com amêndoas classificadas como top.Contudo, a importância de se preservar e estimular a lavoura sul-baiana vai além dos aspectos econômicos. Há ativos ambientais, culturais e sociais de alto valor nas fazendas e cidades rodeadas pelos pés de cacau. As melhores plantações, por exemplo, estão inseridas no que é conhecido como cabruca, sistema onde os pés de cacau ficam sob a sombra de árvores da floresta nativa, quase sempre, espécies da Mata Atlântica.A lavoura cacaueira é também um raro caso de monocultura que enriquece o solo. Costuma-se brincar, entre os antigos plantadores, que ao lado de um pé de cacau nasce até gente. Ao contrário de outras grandes culturas agrícolas, a do Sul do estado não comporta mecanização, é quase toda manual. Ou seja, serve como empregador em larga escala. Nela também se derrama todo imaginário descrito nos romances de Jorge Amado, Adonias Filho e Euclides Neto, três luminares da literatura do cacau, tão gostosa quanto um bom chocolate daquela região.