Nelson Pretto: a SBPC e o circo da ciência

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  • Da Redação

Publicado em 28 de julho de 2017 às 05:38

- Atualizado há um ano

Em 1981, realizava-se aqui em Salvador a 33ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, a SBPC. A cada ano, a reunião anual dessa sociedade científica nacional é realizada em um estado brasileiro, sendo corretíssima essa decisão política da entidade. Sem dúvida, o custo da empreitada é alto, mas fundamental para um país grande como o Brasil, como grande tem que ser a sua ciência.Entre 16 e 22 de julho, estaremos todos reunidos na 69ª Reunião Anual da SBPC na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que comemora seus 90 anos de criação. Justo por essa razão, a UFMG pleiteou abrigar o maior evento científico do país e um dos maiores fóruns de debates de políticas públicas para a educação, cultura, saúde, ciência e tecnologia.Os números são grandiosos: 70 conferências, 83 mesas-redondas e encontros, 14 sessões especiais, 57 minicursos e 871 pôsteres distribuídos em 174 apresentações por dia. Estarão em Belo Horizonte pesquisadores e estudantes de 52 instituições de todo o Brasil. Uma festa. Justo por conta da enormidade dos encontros anuais da SBPC, comecei esse artigo mencionando a reunião que ocorreu na Bahia no início dos anos 80 do século passado. Também lá recebemos na Ufba um grande número de participantes. Como jovem professor universitário, à época no Instituto de Física, e desde os tempos de estudante um sócio ativo da SBPC, estive envolvido com a organização daquela reunião, sob o comando da professora Maria Brandão, do Departamento de Sociologia da Ufba.

Enfrentávamos, como até os dias de hoje, uma enorme carência de grandes auditórios na Ufba para os debates mais acalorados. E, na época, calor não nos faltava! Estávamos num período duro do processo de redemocratização do país, vivíamos a chamada abertura política. Se antes a SBPC já havia se constituído em importante palco de debates que exigiam o fim da ditadura, naqueles anos e até o movimento das Diretas Já, a entidade exerceu um importante e efervescente papel. Estão na memória de todos, e hoje no Centro de Memória Amélia Império Hamburguer (http://portal.sbpcnet.org.br/memoria-sbpc/), os grandes debates com Darcy Ribeiro, Paulo Freire, Florestan Fernandes entre tantos e tantas outras celebridades acadêmicas.Era difícil prever qual das atividades seria a mais procurada. Claro que dependia do tema, mas principalmente do palestrante. Não havia no campus de Ondina da Ufba um palco para os grandes encontros. Tivemos, então, uma ideia bem baiana: colocar um circo no meio do campus e para ali transferir todos os debates cuja procura ia além da capacidade da sala original. Um ritual lá se iniciou e passou a ser seguido nos anos seguintes: a sala começava a lotar, os palestrantes chegando, muita tietagem, e começava o coro: circo! circo! circo! Assim, numa verdadeira procissão científica, saíam, palestrantes e multidão, a caminho do palco do circo que, minutos depois pegaria fogo, com gritos, aplausos e muitas, muitas palavras de ordem.Desta forma, a Bahia contribuiu um pouquinho com a SBPC, ajudando-a a se transformar nesse grande palco da ciência.Nas artes, a Bahia deu régua e compasso para muitos artistas. Como a SBPC de 1981 deu um circo para a ciência, quem sabe querendo dizer que ciência para ser ciência, tem que estar do lado do povo.* Nelson Pretto é   professor da Faculdade de Educação da Ufba. www.pretto.info - [email protected]