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Paulo Leandro
Publicado em 17 de julho de 2017 às 11:40
- Atualizado há um ano
Quarta-feira agora tem Bahia x Atlético Mineiro, no Estádio Independência, em Belo Horizonte, naquele horário pós-novela. Jogão fora de casa, o jeito é curtir pela internet, enfrentar aquele bar chatinho ou decretar-se em prisão domiciliar de canal fechado.Em confronto de gigantes, a arte poética do futebol traz necessariamente a expectativa da contemplação do belo. Tudo no mundo pode tomar feição angulosa, feia, incompleta, entristecedora, quadrada. Aí vem a bola, enche de alegria e deixa o horizonte belo.É esta sensação grega da “aisthetiké” que os torcedores parecem sentir ao perceberem belos lances, hoje mais raros no futebol. Seria bem agradável se tivéssemos a sorte de voltar a curtir jogadas harmoniosas, como na antiguidade “grega” do nosso futebol.O refinamento do gosto pelo futebol se consegue no exercício constante do olhar sobre a grande tela verde: chuteiras são finos pincéis, misturando cores, sons e movimentos em sempre renovada aquarela, de preferência pintada nos tons do padrão do nosso time.A percepção do belo, a cada lance de encher os olhos, é tão delicada que nem a corrosão do tempo a reduz. Basta a quem testemunhou o momento da sublime beleza lembrar-se deste ou daquele pintor: de repente todo o jogo volta como um mágico YouTube mental.A existência de um torcedor praticante e devoto é abençoada pela contemplação divina da bicicleta, ou o toque de calcanhar, o voleio, o nó por entre as pernas... a falta cobrada onde a coruja dorme, a cabeçada sem chance de cima pra baixo, a defesaça do goleirão!Assim é que o Atlético tem seu Dali, Matisse ou Picasso eternos na indefinível leveza do pincel de Reinaldo, que outro dia, o amigão Fred do Chame-Chame nos fez lembrar, em um de seus belos presentes de fotos de aniversariantes do dia postados no “fêice”.Também coube ao líder Fred lembrar-nos do aniversário de um dos pós-doutores de estética com a bola, Osni: dir-se-ia um Rembrandt com a camisa do Bahia, após florescer suas belas artes no Vitória, na mesma época do van gogh Mário Sérgio.Mas, afinal, para que nos serve a estética em um mundo machiavellianamente focado em resultados? O gol marcado de qualquer jeito não vale o mesmo que um golaço de bicicleta? O tento em escandaloso impedimento não conta um tal qual o gol de placa?Aqui, torna-se urgente o esforço da reflexão. A vida parece nos exigir bem mais que o resultado aparente; precisamos adoçar o mundo entristecedor, sempre à espreita com sua mania de realidade. Daí, a vibração necessária: que bela jogada, que golaço, maravilha!Os efeitos da idade trazem aos veteranos a sensação de nostalgia, pois não se apreciam mais reinaldos ou osnis... a fonte da beleza pode mesmo ter secado. É terrível suportar hoje a angústia da maturidade para quem viveu um tempo em que prevalecia a estética.A arte transbordava, contaminava o mundo de algo mais que não se sabe o quê! Mesmo a canelada de Dario, ídolo de Bahia e Atlético, tornava belo o gol, ainda que Rei Dadá tenha tocado na bola aos tropeços. O poder do belo acrescia o risível e o inesperado! O “belo”, hoje, está no placar. No atacante que marca o zagueiro. No time pegador. Que não deixa o outro jogar. Que faz 1x0 e se fecha. Quem sabe, nesta quarta, uma ou outra jogada inútil, de efeito, uma trivela qualquer, ainda exerça seu fascínio de nos encantar. Paulo Leandro é jornalista, prof. Dr. e estudante de Filosofia.