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Darino Sena

Darino Sena: Novas ideias x acefalia

(darino.sena@gmail.com)

“Vai levar uma enfiada”... Foi o que pensei assim que vi a escalação do Vitória para o Ba-Vi de domingo passado. Cleiton Xavier, Carlos Eduardo, Kieza e André Lima juntos. Uillian Correia no banco. Só Willian Farias como volante de ofício em campo. Quem ia marcar nesse time? Tinha como dar certo? Tinha. Foi o que Alexandre Gallo e seus comandados mostraram para mim e pra quem mais duvidou.

Como? Encurtando o campo. Os zagueiros e laterais do Vitória jogaram a maior parte do tempo bem perto da linha que divide o gramado. Uma postura que imprensou o Bahia.

Com uma marcação eficiente e adiantada, o Vitória recuperava a bola com facilidade e perto do gol adversário. Um prato cheio pra jogadores que têm por característica o bom passe, como Cleiton Xavier e Carlos Eduardo. O “campo menor”, pela proximidade dos setores da equipe, também exigiu menos esforço físico desses jogadores. A falta de imaginação ofensiva e erros de posicionamento da retaguarda tricolor completaram o cenário perfeito para o Vitória mandar no jogo.

Mérito de Gallo, pela ousadia, mas também dos jogadores. No 4-3-3 rubro-negro, Willian Farias, à frente da zaga, foi implacável com Régis. Yago, o armador pela direita, não deu vez a Allione. Cleiton Xavier, atuando de forma diferente, mais recuado, como armador pela esquerda, qualificou a saída de bola e fez uma dupla interessante com Kieza, o atacante aberto por ali. K9 era o homem da velocidade na frente e vinha muito bem até ser substituído por lesão. Na outra ponta, Carlos Eduardo achou um espaço confortável entre as linhas tricolores para ser o principal nome rubro-negro. Vindo da ponta pra articular por dentro, saíram dos pés do estreante as principais jogadas.

A incontestável supremacia rubro-negra não virou mais uma goleada histórica porque o Bahia tinha Jean – em sua melhor atuação como profissional. A ausência de gols no clássico é mérito quase exclusivo do goleiro. O “quase” é obra do zagueiro Tiago, que salvou um chute de André Lima – a única bola em direção ao gol que passou por Jean.

O Ba-Vi foi o embate entre um Vitória de novas ideias – com marcação pressão, posse de bola, apenas um volante, Cleiton Xavier recuado, Kieza na ponta -, contra um Bahia acéfalo. As únicas jogadas ofensivas tricolor, nas raras vezes em que passou do meio de campo, foram os cruzamentos para área, para Mendoza, 1,72m, tentar resolver.

Aquele time do Bahia que praticava a marcação pressão, gostava de ficar com a bola, envolvia os adversários com intensa movimentação do meio pra frente, foi campeão do Nordeste e começou muito bem o Brasileiro, e era treinado por Guto Ferreira, deu lugar a outro.

Que deixa a bola com o adversário e o espera no próprio campo mesmo jogando em casa (foi assim na derrota para o Flamengo na Fonte Nova, mesmo antes da ridícula expulsão de Lucas Fonseca), e que não sabe o que fazer quando tem a bola no pé. Esse é o Bahia de Jorginho.

Enquanto o Vitória se reinventa, o Bahia se desconstrói. A esperança de um final de Brasileirão seguro para os baianos passa necessariamente pela capacidade rubro-negra de mostrar que o nível de atuação no clássico não foi um fato isolado. E pela necessidade tricolor de resgatar aquilo que esse time tem de melhor.

*Darino Sena é jornalista e escreve às terças-feiras

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