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Elton Serra: A verdadeira essência do Ba-Vi

Elton Serra (elton.serra@gmail.com)

Permita-me, pelo menos hoje, deixar um pouco o campo e a bola de lado. Teremos mais cinco Ba-Vis até o fim do ano para analisarmos questões táticas e comportamentais de atletas e treinadores, algo que é bem comum aqui nesta coluna. Minha reflexão é para você, que acordou neste domingo e abriu o jornal para ler coisas leves, distantes do dia a dia duro e corrido, e está aproveitando o feriadão ao lado da família, certamente pensando no clássico que começa às quatro da tarde de hoje. Não é uma sessão de terapia, mas, como disse, uma reflexão necessária.

O Ba-Vi da última quinta-feira, disputado com a castigante recomendação de torcida única, foi quente dentro de campo. Os ânimos se exaltaram e inflamaram os torcedores fora dele. As redes sociais pegaram fogo – todos em defesa de seus times -, alguns apontando dedos para todos que apareciam em sua timeline de provocações, notícias e opiniões sobre o clássico. Torcedor é um ser com alma em carne viva. Qualquer palavra que se aproxime dele doerá como uma irremediável chaga, sobretudo quando a equipe do coração é derrotada. As vitórias, por outro lado, anestesiam.

Não vou entrar no mérito das chagas futebolísticas, até porque elas já foram bastante discutidas nos últimos dias. O potiguar Caio Max Augusto Vieira foi mais um representante da arbitragem brasileira, cheia de vícios e interpretações equivocadas, na maioria dos casos. Utilizou critérios distintos em lances parecidos e despertou a ira dos tricolores. Uma arbitragem nociva para o jogo. Ninguém saiu satisfeito do Barradão. O clima ficou muito pesado para os próximos três confrontos.

Discordar da opinião do outro é absolutamente natural e saudável, desde que se use a razão para argumentar e que não ataque a integridade de quem opina. Discordâncias são até necessárias para abrir o leque de reflexões sobre determinado tema. Ninguém é dono da razão, por isso toda opinião tem seu valor. Não significa que todos precisem ter a mesma linha de pensamento e também não significa que o outro não tenha caráter quando tem um ponto de vista diferente. Buscar razão quando se envolve a paixão do futebol, sempre pulsante no coração de quem torce, é difícil. Porém, existe aquele momento em que o ser humano precisa refletir sobre apenas uma questão: “posso divergir, mas não devo agredir”.

Todos possuem papel fundamental na construção do ambiente de um clássico. Os dirigentes, responsáveis por promover o jogo, precisam criar uma agenda positiva para atrair o torcedor aos estádios – seja com times competitivos, seja com ações de marketing compatíveis com  realidade e cultura locais. A imprensa isenta tem o dever de informar, ajudar a formar opinião e levantar debates que ajudem a construir um futebol melhor, mesmo que, por diversas vezes, fale o que o torcedor não quer ouvir.

Aproveite o momento em que, neste dia de domingo, seu filho está brincando no tapete da sala; ou que o amor de sua vida o chamou para sair e curtir um pouco a linda Salvador; ou que seu amigo torcedor do rival quer assistir com você ao Ba-Vi pela TV para tirar um sarro depois do jogo; ou que sua mãe, aquela que lhe ensinou a amar as cores do seu time, quer relembrar como era legal ir à Fonte Nova e sentar no cimento da arquibancada mista. Reflita sobre o que é importante num jogo entre dois clubes que lhe ensinaram o que é rivalidade sadia. Não contenha sua euforia quando seu time chegar à final da Copa do Nordeste e também não guarde mágoa se ele for eliminado. Nos dois casos, não esqueça que o futebol é uma válvula de escape para extravasar sentimentos que ajudam a construir um ser humano, seja na vitória ou na derrota. Como tem sido há 85 anos, sempre haverá um próximo Ba-Vi. E, também, sempre haverá uma segunda-feira para você tocar normalmente a sua vida.

Elton Serra é jornalista e escreve às segundas-feiras. Excepcionalmente nesta semana, escreve no domingo.

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