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Elton Serra: Ao mestre Evaristo de Macedo, com carinho

Elton Serra (eltonserra@gmail.com)
Atualizado em 25/06/2017 14:24:19

O Brasil é um país que, volta e meia, vilaniza personagens sem qualquer motivo. Muitas vezes, basta a pessoa fazer sucesso para incomodar invejosos de plantão. No futebol, essa prática é mais que comum: se um atleta é destaque no que faz, torna-se, para muitos, um ser humano desprezível. Porém, existem as exceções.

O ano era 1972. Em dezembro, um treinador iniciante recebia uma proposta do Santa Cruz para permanecer no clube por mais uma temporada. Campeão pernambucano, acabara de levantar sua primeira taça como técnico de futebol, e tinha todo o respaldo da equipe coral. Só que uma ligação faria este profissional mudar sua vida definitivamente - Wilson Trindade, então presidente do Bahia, queria contar com um treinador capaz de remontar um time envelhecido e que havia perdido o Campeonato Baiano para um Vitória arrasador, comandado pelo trio formado por Osni, André Catimba e Mário Sérgio. Seduzido pela proposta, aceitou o desafio e mudou a rota: abortou a ida para Recife e decidiu parar em Salvador.

Evaristo de Macedo, o personagem em questão, reconstruiu um Bahia e o tornou vencedor. Contratou Sapatão e Fito. Recuperou Baiaco. Transformou Douglas numa máquina de gols e assistências. Conquistou o título baiano de 1973 e abriu caminho para o heptacampeonato estadual do tricolor. No fim do ano, com a ideia de fortalecer seus negócios no Rio de Janeiro, deixou o clube e, com ele, muita saudade na torcida. Saudade que durou uma década e meia.

O ano era 1987. Em dezembro, um treinador já consagrado ainda se recuperava de um baque na carreira. Comandante da Seleção Brasileira, foi demitido após poucas partidas, deixando para trás um projeto de renovação de uma equipe que fracassaria logo depois, nas mãos de Telê Santana, em 1986. Paulo Maracajá, presidente do Bahia, saca o telefone e liga para seu antigo desejo: queria que Evaristo de Macedo fosse o responsável pelo tricampeonato estadual. Uma meta simples, perto do que o técnico conquistou. Em fevereiro de 1989, o tricolor levantava a Copa União e se sagrava bicampeão brasileiro.

Evaristo ainda conquistou mais dois estaduais com o Bahia, em 1998 e 2001, mesmo ano em que também faturou a Copa do Nordeste. Ganhou a alcunha de “mestre” e coroou uma carreira brilhante, que conta também com títulos por Real Madri e Barcelona. Mesmo com toda a rivalidade, foi bem aceito no Vitória e ganhou a Taça Estado, em 2004, apesar de um ano conturbado na Toca do Leão.

Na quinta-feira passada, Evaristo de Macedo completou 84 anos de vida. Certamente,  deve ter passado por sua cabeça todos os bons momentos que viveu na Bahia. Desde sua passagem rápida pelo Fluminense de Feira, até os inúmeros troféus que ergueu em nossa terra. Um técnico que montou a espinha dorsal do hepta, formada por Sapatão, Baiaco, Fito e Douglas. Um professor capaz de fazer um time modesto ser campeão brasileiro e, de quebra, revelar para o país nomes como Zé Carlos, Bobô e Charles. Um homem com o ‘feeling’ de, mesmo num momento ruim do clube, dar oportunidade a uma joia conhecida como Daniel Alves. 

Sim, o futebol é capaz de vilanizar. Porém, poucos conseguiram sair ilesos deste massacre gratuito, como Evaristo conseguiu. Com trabalho, destreza e talento. O maior técnico da história do futebol baiano, sem dúvidas.

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