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Elton Serra

Elton Serra: no Vitória, venceu a democracia

Elton Serra (eltonserra@gmail.com)

A democracia no Brasil, sabemos, é praticamente uma criança. Dos quase 517 anos de existência do país, em pouco mais de trinta vivemos num cenário relativamente democrático, onde o povo tem o direito de escolher quem governará seu território. É uma conquista significativa, mas que está longe de resolver as desigualdades sociais e extirpar os elementos que travam o crescimento do Brasil e locupletam-se com cargos públicos em prol de benefícios particulares, com atitudes muitas vezes escusas, ferindo o princípio democrático.

No futebol, um mundo menor e mais fechado, a democracia é raridade. Na CBF e nas federações, por exemplo, inexiste. Um grupo restrito de dirigentes e políticos comanda o esporte, enquanto atletas e treinadores, por exemplo, apenas assistem às decisões unilaterais. Raras exceções ainda existem, como alguns clubes de futebol que permitem seus torcedores participar da vida política das instituições. O Bahia, desde 2013, realiza eleições diretas e dá aos seus sócios o poder de mudar o presidente a cada três anos. São quase quatro temporadas num regime democrático, mas obviamente que este processo ainda vai demorar muito tempo para amadurecer.

O Vitória seguiu o mesmo caminho e aprovou, ontem, as eleições diretas no clube. A partir de 2019, o torcedor poderá escolher o presidente, tirando o poder de “meia-dúzia” de conselheiros. Algo impensável no rubro-negro há anos, já que a rotina era assistir as reuniões que aclamavam dirigentes indicados por um pequeno grupo – um ciclo vicioso que durava um século no Leão da Barra. Com a mudança no estatuto, sócios há pelo menos 18 meses terão direito de voto, e torcedores com mais de três anos de associação ao clube poderão se candidatar à presidência.

O curioso é que, no Vitória, dezenas de conselheiros defendiam a democracia, mas não levavam a discussão adiante nos bastidores. Discursos que são repetidos vez ou outra por políticos Brasil afora, reverberados dentro do futebol. Situação e oposição rubro-negras, desta vez, resolveram dar as mãos e abrir o clube para a torcida.

A reoxigenação de ideias é sempre importante em qualquer setor da sociedade, e no futebol não é diferente. Num esporte onde as coisas mudam rapidamente, manter-se atualizado é fundamental. Ter pessoas que conseguem acompanhar a evolução no esporte, sobretudo na parte estrutural dele, é uma vantagem competitiva. As eleições diretas permitem que novas cabeças pensantes consigam contaminar positivamente um mundo totalmente viciado em conceitos arcaicos. O Vitória terá a oportunidade de viver uma era na qual jamais esteve inserido, apesar da democracia, como já disse, não transformar o clube de um dia para o outro.

Além da eleição direta para presidente, assim como no Bahia, o Conselho Deliberativo proporcional é extremamente importante para essa reoxigenação de ideias. Acabar com o “amém” nas reuniões é fator preponderante para um clube crescer como instituição. Com representantes de diferentes chapas, as ideias serão muitas – divergirão, mas terão pluralidade.

A democracia continuará sendo privilégio do brasileiro - com controvérsias, claro, já que o atual presidente da república sequer foi votado pelo povo. A partir de 2019, o torcedor do Vitória deixará de assistir a um punhado de pessoas decidindo o futuro do clube. Com reoxigenação de ideias, com perspectiva de progresso. Independentemente da intenção de quem assuma, o Leão da Barra deixará de ser um patrimônio virtual de sua torcida, como de fato foi nos últimos 117 anos.

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