TECNOLOGIA
Mais Lidas
Elton Serra

Elton Serra: Overdose de Ba-Vi, escassez de marketing

Elton Serra (elton.serra@gmail.com)

Quatro Ba-Vis consecutivos antes do início do Campeonato Brasileiro. Por capricho do destino, tricolores e rubro-negros travarão mais de 360 minutos de batalhas que valem dois troféus. Enquanto os dois primeiros valem pela semifinal da Copa do Nordeste, os dois últimos determinarão o campeão baiano de 2017. Do ponto de vista da rivalidade, é algo que vai mexer com o psicológico do torcedor por duas semanas inteiras. Porém, é preciso que os dois clubes pensem também no bolso de seus apaixonados.

O clássico, por si só, já atrai a atenção da torcida. A rivalidade ainda é o combustível que move a paixão de quem vive Bahia e Vitória na sua essência. Deste modo, a demanda pelos jogos será bem maior que a oferta – o Ba-Vi, sozinho, se autopromove, mas precisa de um trabalho de marketing efetivo para reter público nesta sequência de confrontos.

O grande desafio é fazer o torcedor fiel consumir as quatro partidas nos estádios. É claro que o rubro-negro priorizará os jogos no Barradão, enquanto o tricolor comprará ingressos para os confrontos na Fonte Nova. Porém, mesmo assim, o custo pode ser elevado: o Vitória tem ticket médio de R$ 11, enquanto o Bahia tem média de R$ 20. Esses números perdem força quando olhamos para o borderô e percebemos qual faixa de ingresso é mais consumida: em ambos os estádios, o bilhete mais barato custa R$ 30 – existem as meias-entradas, mas em número bem reduzido. Significa que o torcedor mais fanático poderá pagar de R$ 60 a R$ 120 somente em ingressos, e é possível que os preços sejam majorados, já que estamos falando de quatro decisões. Como fazer com que ele se sinta atraído a gastar tanto?

Os clubes tentam emplacar suas campanhas de sócios, mas esbarram na cultura soteropolitana. É muito difícil convencer o torcedor a pagar uma mensalidade ao seu time do coração. Além da situação financeira nada boa em Salvador, o nível de atratividade dos jogos, sobretudo no primeiro semestre, é pequeno. O cidadão prefere ficar em casa, assistir pela TV, chamar os amigos para a resenha e gastar bem menos. O costume do torcedor baiano é uma grande barreira para os especialistas em mercado na dupla Ba-Vi.

Uma saída – que deveria ser bem óbvia, mas não é – seria a união dos dois clubes em prol de uma única ação de marketing. Os jogos precisam ser pensados como produtos do entretenimento local e, para isso, é necessário serem trabalhados em conjunto. A ideia da torcida mista já foi o primeiro passo, mas que se tornou algo muito mais institucional, resolvido entre os presidentes de Bahia e Vitória, do que uma ideia que precisa ser gerida pelos diretores de mercado. O Ba-Vi é uma marca construída há 85 anos e precisa ser tratada como tal. É possível fazer o torcedor se interessar ainda mais pelo jogo e se aproximar dos 100% da taxa de ocupação nas quatro partidas. Independentemente do que Bahia e Vitória apresentem em campo.

Pensar fora da caixa é muito necessário no futebol baiano. O primeiro passo foi dado com a torcida mista, mas não pode parar por aí. É preciso deixar a rivalidade dentro de campo e começar a criar ideias que fidelizem ainda mais o torcedor fora dele. É claro que qualquer fanático quer ver seu time vencer, mas ele só experimentará o gosto da vitória – ou do triunfo, como queiram – após 90 minutos de jogo. Até o apito do árbitro, a missão é daqueles que são pagos para fomentar o entretenimento nos estádios. Eles terão, nas próximas duas semanas, quatro oportunidades de mostrar que podem fazer muito mais do que têm feito até então.

Elton Serra é jornalista e escreve às segundas-feiras.

publicidade

Últimas

+ Notícias