Herbem Gramacho: Alegria de pobre dura pouco?
O início do Brasileirão foi animador para os times de orçamento médio e seus torcedores. Nas nove primeiras rodadas, Bahia e Ponte Preta ficaram no G6 três vezes, Chapecoense sete e Coritiba oito. Um quarto do campeonato se foi. E justamente na 10ª das 38 rodadas, passagem para o segundo quarto da disputa, o peso do dinheiro começou a prevalecer. Pela primeira vez na edição 2017, o G6 está composto somente por times do eixo mais rico do país, formado pelas principais equipes de São Paulo, Rio, Minas e Rio Grande do Sul - embora sem nenhum mineiro na dianteira.
Bahia e Coritiba não vencem há cinco jogos. A queda de rendimento explica-se, em parte, pela sequência difícil que tiveram. O tricolor enfrentou Grêmio e Coritiba fora, Palmeiras em casa, Corinthians fora e Flamengo em casa. Os paranaenses enfrentaram Botafogo fora, Corinthians e Bahia em casa, Grêmio e Cruzeiro fora.
Mas o que é o Brasileirão senão uma longa sequência de pedreiras com parcos intervalos de Atléticos Goianienses e Avaís da vida? Não à toa é tido como o campeonato mais disputado do mundo, pois não há um ou dois superfavoritos, como na Espanha, Alemanha, Itália e Portugal. O Brasileirão teve sete campeões nas 14 edições disputadas em formato de pontos corridos desde 2003. Corinthians, São Paulo e Cruzeiro ganharam três cada; Fluminense dois; Santos, Flamengo e Palmeiras um. Todos do eixo.
Mesmo o Campeonato Inglês, reconhecidamente equilibrado, só teve cinco campeões no período, com cinco títulos do United e do Chelsea, dois do City, um do Arsenal e um do Leicester. Na Alemanha, cinco também, graças ao bi do Borussia Dortmund e as surpresas de Werder Bremen, Stuttgart e Wolfsburg em meio aos nove títulos do Bayern nos últimos 14 anos. Na Espanha, quatro campeões. Na Itália, três. Em Portugal, nem o Sporting fez uma graça: só deu Benfica e Porto.
Se a fórmula de pontos corridos só permite à dupla Ba-Vi sonhar com título na condição de zebra raríssima, como o Leicester em 2016, também não é motivo para enxergar-se na zona de rebaixamento. Nem tanto, nem tão pouco. Um time competitivo e bem treinando e um elenco homogêneo frequentemente levam equipes menos abastadas à Libertadores ou a posições confortáveis na metade da tabela.
É isso que se pode cobrar do Bahia, pelo nível das atuações feitas, e que se deve exigir do Vitória, apesar da desesperança que a campanha rubro-negra dá até agora. Cabe às respectivas diretorias a tarefa de montar a equipe de modo que a saída de um ou dois titulares por lesão ou suspensão não comprometa tanto o desempenho do conjunto. Não pode ser considerado normal Jorginho ter o banco de reservas sofrível que tem, como não é admissível o Vitória ter contratado tanto e deixado Gallo com uma defesa tão frágil.
A morte do clássico
Domingo é de dia de dois clássicos importantes do futebol brasileiro. No Ba-Vi do Barradão, só torcedores do Vitória, embora não haja relação de causa e efeito entre o problema da criminalidade e a “solução” da torcida única. Em Belo Horizonte, Atlético x Cruzeiro no Independência. Lá, a Polícia Militar proibiu o uso de caixas de som voltadas para a torcida visitante, artifício utilizado pelo Galo para provocar e também para abafar os gritos dos cruzeirenses na final do estadual, em maio. O futebol está muito fresco.
Herbem Gramacho é editor de Esporte e escreve ás quintas-feiras.