Ivan Dias Marques: A turnê MayMac e o show para imbecis
Sei que o leitor e a leitora deveriam ter mais o que fazer durante a semana, mas quem teve a oportunidade de, ao menos, dar uma espiada na turnê da luta entre Floyd Mayweather Jr. e Conor McGregor, que vai acontecer em 26 de agosto, e tem um pouco de senso crítico deve ter sentido a mesma vergonha alheia que eu.
Um verdadeiro show de horrores. Dois lutadores ricos se provocando infantilmente, falando abobrinha, dando inúmeros exemplos de falta de respeito (incluindo homofobia). A provocação, em si, sempre foi parte da pré-venda de lutas, mas, por mais que a gente se interesse em ver um combate, me parece desnecessário – pra não dizer imbecil – essa troca de ‘afagos’.
A turnê MayMac passou por Estados Unidos e Europa para promover o combate. Pior que teve gente que pagou para ouvir e ver os dois lutadores fazerem esse show, com direito a provocação entre seguranças e até ameaças de fãs de McGregor a Mayweather.
Não queria ser preconceituoso, mas é típico de parte da sociedade americana esse gosto pelos ‘freakshows’. Essa coisa de querer colocar um lutador de MMA contra um de boxe, de fazer competições entre atletas de diferentes provas, de colocar esportistas em condições adversas com o único objetivo de entreter o cara sentado no sofá usando a desculpa de provar quem é “o melhor”.
Já fizeram isso com Muhammed Ali x Antonio Inoki (boxe x MMA), colocaram George Foreman pra enfrentar cinco pugilistas numa noite, Jesse Owens correndo contra cavalos, entre outros eventos sem o menor sentido esportivo e com o único objetivo de ganhar dinheiro. Nada contra ganhar dinheiro, gosto muito, mas são momentos que só servem pra comprovar o gosto pela bestialidade.
As provocações pré-luta não precisam cair nisso. Os lutadores de MMA Jon Jones e Daniel Cormier se odeiam, se provocam e até já foram às vias de fato em uma entrevista coletiva. Um cutuca o outro, mas, na minha opinião, sem descer ao nível da imbecilidade de MayMac. No entanto, enquanto houver quem consuma idiotice, vai haver quem a venda.
Maturidade
A ciência mostra, cada vez mais, a força que o papel da mente tem nos resultados esportivos de um atleta. E os exemplos do dia a dia reforçam isso também. Às vezes, para a maturidade vir, é necessário um certo trauma, que provoca a evolução do esportista.
O novo exemplo prático é Filipe Toledo. Talento nunca faltou ao jovem surfista brasileiro. Mas foi preciso tomar uma suspensão, rara, da WSL por conta de seu comportamento para que ele, enfim, se concentrasse na sua qualidade e desse um passo à frente.
Não posso chamar de coincidência que logo após voltar da suspensão de uma etapa, Filipinho tenha surfado tão bem e vencido a competição em Jeffrey’s Bay pelo Mundial de Surfe. Foi consistente o tempo todo, com notas bem altas e tendo rivais que apresentaram também um belo surfe. Agora, é não se empolgar e manter o foco para, quem sabe, comemorar mais ainda no futuro.
Só pra não deixar de pincelar, a WSL parece estar esperando uma tragédia para tomar medidas mais duras em relação à manutenção de J-Bay no calendário. É um pico histórico e tradicional, mas os tubarões parecem não ligar muito para isso.
Ivan Dias Marques é subeditor de Esporte e escreve às sextas-feiras