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Miro Palma

Miro Palma: A vida difícil do técnico de futebol

Miro Palma (miro.palma@redebahia.com.br)
Atualizado em 05/07/2017 16:49:49

Técnico Vagner Mancini foi demitido da Chapecoense (Foto: Nelson Almeida/ AFP)

 

A lógica de trabalho dos técnicos no futebol brasileiro poderia ser chamada de uma lógica “call center”. Resguardadas as devidas proporções, os técnicos, por vezes, muitas delas, parecem profissionais de telemarketing: trabalham sob pressão constante – de todos os lados – e com metas de curto prazo. E, quando o resultado não vem, adeus. Foi assim com Rogério Ceni, demitido anteontem do São Paulo, e com Vagner Mancini, demitido ontem da Chapecoense.

Mancini não vencia com a Chape há quatro jogos. Já Rogério amargou três derrotas e dois empates nos últimos cinco jogos. Os catarinenses estão em 15º na tabela do Brasileirão, enquanto o tricolor paulista acabou de entrar na zona de rebaixamento, no 17º lugar.

Em um ano de reconstrução após o trágico acidente aéreo que vitimou jogadores, membros da comissão técnica e dirigentes do clube, em novembro do ano passado, a Chapecoense fez bons jogos nas primeiras rodadas do campeonato e depois teve uma queda de rendimento natural, recorrente em times de médio porte. Nada desastroso para uma equipe em plena restruturação e que conquistou, recentemente, o Campeonato Catarinense. Mas não foi o suficiente.

O São Paulo, por sua vez, enfrenta um período difícil há mais tempo. Foi eliminado do Campeonato Paulista, da Copa do Brasil, da Sul-Americana e tem apenas três triunfos em 11 jogos disputados. Mas Rogério Ceni, que foi contratado até dezembro de 2018 e ficou apenas seis meses no cargo, teve um rendimento de 49,5%, melhor que seus antecessores Edgardo Bauza (46,5%) e Ricardo Gomes (42,5%). Isso também não foi o suficiente.

Nunca é. Só a vitória constante, sem nenhuma oscilação, é o correto na cabeça dos dirigentes brasileiros. Algo praticamente impossível em um campeonato tão equilibrado como o Brasileirão. Paciência, planejamento e projeto a longo prazo são palavras fora do vocabulário das diretorias dos clubes. Com isso, a “dança das cadeiras” só empobrece o nosso futebol. A cada rodada, um novo treinador “balança”.  

E assim, ano após ano, o filme se repete. Na segunda rodada, Paulo Autuori deixou o cargo de treinador do Atlético Paranaense para virar diretor. Eduardo Baptista foi contratado. Ney Franco, por sua vez, caiu no Sport e deu lugar a Vanderlei Luxemburgo. Na terceira rodada, Guto Ferreira trocou o Bahia pelo Internacional. Jorginho chegou e, com uma série de resultados ruins, já é questionado por parte da torcida. Petkovic, que acumulou diversos cargos no Vitória, inclusive o de técnico, assumiu a diretoria de futebol e contratou Alexandre Gallo. Dorival Júnior foi mandado embora do Santos e Marcelo Cabo do Atlético Goianiense.

Está certa essa cultura do futebol brasileiro? Não respeitar o contrato e colocar a culpa em uma só pessoa é muito mais fácil do que admitir os equívocos no planejamento. Enquanto a fórmula for essa, continuaremos a ver esse troca-troca nos nossos clubes. Evoluir é preciso, principalmente no modo de pensar. Dirigentes e imprensa precisam se qualificar e os torcedores, por sua vez, necessitam se informar melhor.

Futebol é paixão, mas deve ser razão também. Joachim Löw, técnico da seleção da Alemanha desde 2006, já teve inúmeros “fracassos” antes de virar campeão do mundo em 2014, no Brasil. No domingo passado, ganhou a Copa das Confederações sem os seus principais jogadores, com um time repleto de jovens jogadores: média de 23,9 anos. E há quem não acredite em planejamento...  

Miro Palma é subeditor de Esporte e escreve às quartas-feiras.

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