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Miro Palma

Miro Palma: Até quando teremos corrupção no esporte?

Miro Palma (miro.palma@redebahia.com.br)

Ninguém deveria passar 30 anos presidindo uma entidade esportiva. Na verdade, ninguém deveria passar 30 anos presidindo nada. Qualquer boa gestão precisa de oxigenação. Quando se criam cargos vitalícios, se instala a corrupção. Não à toa foi o que aconteceu com a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA).

Na última semana, veio o desfecho da operação Águas Claras, uma parceria da Polícia Federal com o Ministério Público Federal e participação da Controladoria-Geral da União, que investiga um desvio de recursos públicos que eram repassados à CBDA. As investigações apuram o destino de cerca de R$ 40 milhões que o ex-presidente da entidade por quase 30 anos, Coaracy Nunes, junto com os três dirigentes, Sérgio Ribeiro Lins de Alvarenga, diretor financeiro, Ricardo Cabral, coordenador do polo aquático, e Ricardo de Moura, superintendente da CBDA, e mais outras sete pessoas embolsaram.

Esse montante vinha de subsídios do Ministério dos Esportes e do patrocínio dos Correios que, há mais de 20 anos, apoiava atletas das modalidades aquáticas. Para se apropriar do dinheiro, os cartolas superfaturam de tudo, desde a compra de passagens aéreas até equipamentos de natação. E, ainda, ficavam com valores de premiações que deveriam ser destinados diretamente aos representantes brasileiros nas competições.

O resultado disso foi a interrupção do patrocínio dos Correios à modalidade que, em meio ao escândalo, decidiu rescindir o contrato que valeria até 2019. Com isso, os atletas, que já estavam sendo prejudicados com a gestão fraudulenta da CBDA, se viram ainda mais desamparados. No último sábado, nomes da elite da natação como César Cielo, Ana Marcela, Thiago Pereira, Joana Maranhão, Leonardo de Deus e Bruno Fratus publicaram em suas redes sociais pedidos de apoio aos Correios.

Só para se ter uma noção do tamanho da falcatrua que acontecia, a CBDA gastou R$ 1,5 milhão para a compra de equipamentos para o polo aquático e esses equipamentos nunca foram entregues. Quando o assunto era superfaturamento, eles chegavam a aumentar em 308% o valor real de um produto ou serviço. Os dirigentes repassavam à Agência Roxy de Turismo, envolvida no esquema, o valor de R$ 2.100 para o aluguel de uma van que, em circunstâncias normais, custa R$ 680. A Polícia Federal apurou ainda que só a Agência Roxy de Turismo recebeu mais de R$ 24 milhões da CBDA nos últimos quatro anos.

Sim, somente nos últimos quatro anos. Isso porque as investigações, que começaram há um ano, só se debruçaram sobre os últimos cinco anos. Ou seja, sobre o último ciclo que culminou com os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em que a nossa natação, infelizmente, não conquistou nenhuma medalha. E, parafraseando a nadadora Joana Maranhão, em entrevista à ESPN, imaginem nos outros ciclos olímpicos, quanto não foi desviado?

Durante o período em que Coaracy esteve à frente da confederação, o Brasil conquistou 11 medalhas olímpicas. Será que se esses R$ 40 milhões tivessem sido aplicados no esporte, em equipamentos, melhores estruturas de treinamento, melhores profissionais para acompanhar os atletas, entre outros benefícios, o nosso quadro de medalhas não seria melhor?

Nunca saberemos por que a nossa natação foi roubada justamente por aqueles que deveriam defendê-la, geri-la e torná-la mais competitiva. Nossos atletas foram lesados e passados para trás por pessoas que se enraizaram no poder de uma instituição. É vergonhoso ver como a corrupção tem braços onde sequer imaginamos que ela era capaz de alcançar. A nós, cidadãos, torcedores e amantes do esporte, só resta acompanhar, cobrar punições e torcer para que mais investigações como essa levantem os tapetes que encobrem as sujeiras do esporte.

Miro Palma é subeditor de Esporte e escreve às quartas-feiras

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