Negócios: A imagem de um impasse

4,9 mil empregos foram fechados no estaleiro Enseada, em Maragogipe, quando a sonda Ondina teve a construção suspensa há dois anos

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  • Da Redação

Publicado em 6 de junho de 2017 às 08:39

- Atualizado há um ano

4,9 mil empregos foram fechados no estaleiro Enseada, em Maragogipe (Foto: Divulgação)‘Aqui tudo parece que é ainda construção e já é ruína’. O verso de Caetano ganha uma nova tradução na imagem acima e revela uma situação que põe de um lado uma política que gera empregos e pode ser capaz de desenvolver tecnologia de ponta no Brasil  e, do outro, as necessidades de uma empresa estatal altamente endividada se viabilizar e aumentar seu poder no mercado.

A sonda Ondina teve a construção suspensa há dois anos estando 65% concluída, e deixou um rastro de 4.950 desempregados no estaleiro Enseada, em Maragogipe (a 140 km de Salvador). O estaleiro é fruto de um investimento estimado em R$ 3,2 bilhões (R$ 2,7 bi executados) de Odebrecht, OAS, UTC e da japonesa Kawasaki. Ondina é ou seria a primeira das seis sondas encomendadas ao estaleiro pela Petrobras e que justificavam o empreendimento.

Entre a encomenda e a paralisação veio a Lava Jato e a ‘demonização’ da política pública que impõe um percentual mínimo de conteúdo local na fabricação de sondas e de serviços contratados na cadeia de Oléo e Gás no Brasil. Demonização foi o termo usado pelo presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso, que em seminário para jornalistas no Rio de Janeiro afirmou  que o Brasil tem de escolher entre ser como Venezuela e Nigéria, “onde as empresas  sugam o petróleo e vão embora”, ou como Inglaterra e Noruega, que aproveitaram a descoberta de petróleo no Atlântico Norte na década de 1980 para, atualmente, “exportar máquinas de alto valor agregado”.

O seminário foi realizado para explicitar posição conjunta de várias entidades contra o pedido da Petrobras feito à Agência Nacional do Petróleo (ANP) para zerar o percentual mínimo de conteúdo local nas novas sondas que pretende contratar ou fretar. A política de conteúdo local, que se pretende de  estado e não de governo, começou em 1999.O lado da PetrobrasOficialmente a estatal afirma que apoia a política de conteúdo local, mas que quer que o percentual mínimo da nova rodada seja igual ao da licitação anterior. A empresa alega que com os percentuais atuais as sondas ficam 40% mais caras e cita casos de atrasos no cronograma de entrega incompatíveis com aqueles assumidos por ela junto à ANP para começar a explorar e desenvolver poços.

Porém, não se pronunciou ao CORREIO  sobre o pedido de zerar a obrigação mínima de uso de máquinas, equipamentos e serviços contratados de empresas brasileiras. Não há solução fácil para a questão, que retrata alguns dos impasses da economia brasileira provocada pelo ambiente politico. Fato é que os prejuízos já aconteceram - incluindo para indústria e trabalhadores baianos. É hora de decidir onde se perde menos, se na recriação ou se na destruição.