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Nelson Cadena

Nelson Cadena: O Porre de Jânio Quadros

Se o ex-presidente Jânio Quadros tivesse concluído seu mandato presidencial teria proibido os brasileiros de foder, vão desculpando o termo chulo; o presidente abusando das mesóclises que tanto admirava diria de outro jeito: “Foder-se-ão os que copularem sem o meu assentimento”. O político, na sua sanha supostamente moralista (lembrando que também o homem da vassoura, parece, gostava de uma propinazinha e só ficamos sabendo disso após sua morte no arranca-rabo da família para meter a mão nos dólares suíços), proibiu e queria inibir tudo aquilo que os brasileiros amavam. Parecia obstinado no propósito de recuar no tempo, tudo que significava descontração e prazer devia ser eliminado.

Um dia, Jânio acordou com os sinais trocados, que ficaram trocados por anos e anos, e proibiu os fogos de artifício nas festas e procissões cívicas e religiosas e proibiu também os balões juninos e os fogos de época; ninguém lhe deu a menor bola e desse episódio aflorou uma bela crônica, na revista O Cruzeiro, de Austregésilo de Ataíde, que era um conservador radical, porém, lúcido, com o título Desobediência. No memorável artigo, o escritor pregava a transgressão às regras propostas pela Presidência da República.

Não satisfeito, Jânio pretendeu tirar a autoestima das mulheres proibindo os desfiles de candidatas a miss com maiôs “cavados” nos concursos de beleza; as meninas se sentiam gostosas e os homens babavam com isso, mas esse prazer Jânio quis tirar dos brasileiros. Satisfar-se-ia por algum tempo com esses achaques moralistas, não se importando com a reação dos jovens e da mídia, aplaudido por grupos imbuídos do mesmo obscurantismo. E, no ensejo, atacou o biquíni.

Proibiu o uso da minúscula peça, e indecente, na opinião dele, nas praias e piscinas. Houve quem concordasse, lá fora, inclusive. O presidente de Portugal, o velho e decrépito ditador Oliveira Salazar, também proibiu a vestimenta de banho, pela mesma época. Jânio não perdoou o Carnaval e foi em cima de outro desejo de prazer dos brasileiros, o lança-perfume, que baniu da festa, imprimindo rigorosa fiscalização, o que estimulou o contrabando e os falsificadores do produto que continuou a reinar na festa de Momo por mais duas a três décadas. O lança-perfume proibido pelo presidente não era tão nocivo e tóxico quanto o doravante fabricado ilegalmente nos Paraguais da vida.

O velho Jânio continuou na sua cruzada contra o prazer, salvo o dele próprio, nunca lhe ocorreu proibir a cachaça, ou o uísque. Pelo contrário, bebê-lo-ia, o copo inteiro, goela abaixo, de uma vez. E proibiu os jovens de aparecerem em programas de televisão, ou nos auditórios dos programas radiofônicos. E como lhe pareceu pouco proibiu as corridas de cavalos durante a semana; se vivo fosse proibiria o watsapp, não tenha dúvida, quem sabe o namoro virtual, também.  Jânio Quadros foi a reencarnação do primitivo homem das cavernas. Sem o porrete, restou-lhe o porre. Trocadilho infame. Jânio odiá-lo-ia.

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