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Nelson Cadena

Nelson Cadena: o primeiro baile de Carnaval na Bahia

Na noite de 17 de fevereiro de 1844, a Bahia realizou o seu primeiro baile carnavalesco de salão, na Associação Comercial da Bahia, então denominada de Praça do Comércio. No dia 20/2, um outro baile de mascarados foi realizado na casa. Até hoje se imaginava que o Teatro São João fosse o palco dos primeiros bailes de mascarados, assim registrei no meu livro História do Carnaval da Bahia, por desconhecer os antecedentes. Tudo o que foi publicado sobre o assunto, por mim e por outros, tem como referências os teatros São João e São Pedro, o primeiro na década de 1850, o segundo na década posterior.

O baile carnavalesco da Associação Comercial da Bahia que, até novas descobertas, passa a ser o pioneiro, foi promovido por uma entidade carnavalesca, até hoje também desconhecida, denominada Recreio no Carnaval. Faço aqui um parêntese para a simbologia do nome. Recreio era naquele tempo como se denominavam os passeios a bordo dos barcos a vapor, sempre animados por uma filarmônica, organizados pelas irmandades para as festas populares do Recôncavo e também da capital. O destino final era Candeias, Santo Amaro, Cachoeira, Maragogipe, ou, então o Porto da Lenha em Itapagipe, por ocasião da Festa do Bonfim. São Gonçalo e Nossa Senhora da Guia.

Os organizadores do baile distribuíram os ingressos entre os associados da casa, ou seja, os comerciantes da cidade, além das autoridades de Salvador e o corpo diplomático. Através de anúncios publicados nos jornais, a sociedade Recreio do Carnaval avisava que só seria permitida a entrada, portando o convite; antecipava desculpas para os associados que não receberam os bilhetes; pedia para os comerciantes reclamarem junto à direção, caso não tivessem recebido ingressos extensivos aos filhos e filhas. E como se tratava de um baile de mascarados, recomendava às senhoras e senhoritas para comparecerem “vestidas com a maior simplicidade”. Nada de trajes luxuosos, de praxe nas festas sociais promovidas pela ACB.

Duas comissões de honra foram nomeadas para recepcionar e introduzir os convidados nos salões da casa. Uma de senhoras e senhoritas para receber os cavalheiros e uma de senhores para receber as damas. A primeira era constituída por dona Maria Peçanha Martins (esposa do chefe da polícia), Maria Guilhermina de Accioli e Almeida, Maria Accioli de Albuquerque e a srta Madureira de Brito. A comissão masculina foi integrada por Luís Antônio Vianna, Manoel Belens de Lima, Francisco José Godinho, Antônio José da Costa, José Agostinho de Salles, Domingos Alves Pinto, Francisco Leciagne, J.S Guilmer e Antônio Francisco de Lacerda, pai do construtor do elevador que leva seu nome.

O primeiro baile de mascarados da cidade recebeu críticas ferinas de O Guaycuru, jornal que defendia dentre outras causas a exclusividade do comércio para os brasileiros e era francamente hostil aos lusos. O jornal na sua maledicência sugeriu que o baile tinha sido uma homenagem aos portugueses que lutaram contra os baianos na guerra de 1822/23 e afirmou que não havia brasileiros entre os convidados. Os organizadores refutaram as acusações, lamentaram “a selvageria rancorosa” do redator e explicaram que mais de 100 senhoritas patrícias participaram da festa, além de médicos, magistrados, oficiais da Marinha e empregados públicos.

O baile de salão de 1844 foi um dos primeiros bailes de mascarados realizados no país. As mais antigas referências ao respeito são dos bailes promovidos pelo Hotel Itália do Rio de Janeiro, a partir de 1835 e o realizado em 1841 em Porto Alegre. No Recife, o primeiro baile masquê teria ocorrido em 1845, um ano, portanto, após a iniciativa da Sociedade Carnavalesca Recreio do Carnaval, na Bahia.  Ou seja, podemos afirmar sem receio de errar que o Evoé da Associação Comercial da Bahia foi também o primeiro baile de Carnaval realizado no Nordeste. 

* Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às sextas-feiras

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