Bairros com histórico de confrontos entre policiais e bandidos terão monitoramento diferenciado

Patrulhamento Tático Móvel (Patamo), unidade recém-criada pela Polícia Militar, deve começar a atuar em agosto

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  • Bruno Wendel

Publicado em 29 de julho de 2017 às 05:00

- Atualizado há um ano

Bairros de Salvador com histórico de confrontos entre policiais e bandidos terão um monitoramento diferenciado a partir desse mês de agosto – vão receber o Patrulhamento Tático Móvel (Patamo). A unidade, recém-criada pela Polícia Militar da Bahia (PM-BA) dentro do Batalhão de Choque, vai atuar nos bairros que compõem a chamada “mancha criminal” da capital.

Entre eles, estão Cosme de Farias, Engenho Velho da Federação, Valéria e Santa Cruz, que compõem a mancha por abrigar um volume maior de ocorrências de violência. A Baixa do Tubo, por exemplo, no Vale do Matatu, é alvo de confronto intenso entre duas facções: Comando da Paz (CP), que ainda controla a região, e Bonde do Maluco (BDM), que domina Cosme de Farias e a região de Brotas.Outra localidade na mira da nova unidade é o Boqueirão, na Santa Cruz. Apesar de o bairro fazer parte da região de Nordeste de Amaralina, onde há três Bases Comunitárias e uma companhia (40ª CIPM/ Nordeste), traficantes do CP desafiam a polícia.“O local é uma intensa área de risco. Os traficantes estão de fuzis e metralhadoras. Viaturas já foram perfuradas a balas mais de uma vez este ano. Já tivemos também colegas feridos”, conta um PM da 40ª CIPM, sob anonimato.A Polícia Militar não especificou uma data para que o Patamo entre em atividade, mas o comando fala em agosto. “Já está tudo pronto. Só falta o governador Rui Costa sinalizar. A previsão de inauguração da unidade será no mês agosto”, declara o comandante-geral da Polícia Militar da Bahia, coronel Anselmo Brandão. A unidade funcionará na sede do Batalhão de Choque, em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador (RMS). 

Para a nova unidade foram recrutados 90 policiais. “São policiais novos, que entraram na polícia há quatro meses, além de policiais experientes”, declara o comandante-geral da PM. Os policiais tiveram um treinamento especializado para atuar em áreas de conflito. Eles passaram por simulações em topografias irregulares, como escadarias, becos, vielas, além de treinamento para gerenciamento de crises e controle do estresse.“Nesse caso, os policiais vão entrar nas localidades com outro olhar, com mais cautela, priorizando o recuo em vez do embate no primeiro momento, a fim de se evitar os casos de balas perdidas”, diz o comandante. “Em algumas comunidades, quando alguém é atingido, culpa-se logo o policial, quando na verdade, em alguns casos, depois se descobre com as investigações que não foi”, completa. Inicialmente, a unidade contará com dez motos, cinco viaturas e uma base móvel. (Foto: Marina Silva/Arquivo CORREIO)OcupaçãoAlém do treinamento especializado, a nova unidade difere das demais pela atuação, com uma proposta de permanecer na comunidade onde há conflito.“A unidade vai reforçar o policiamento nessas regiões até quando for necessário reestabelecer a ordem aos moradores. O Patamo é uma unidade de ocupação. Se for preciso, por mais de uma semana. Após o reestabelecimento da ordem, a companhia da área retomará o policiamento ordinário”, explica o coronel Anselmo.Em algumas situações, a unidade vai trabalhar junto com a Polícia Civil. “Entre as funções do Patamo está fazer incursões para cumprimento de mandados de prisão e, nessas situações, atuará junto com a Polícia Civil”, aponta.Em relação ao armamento, o comandante-geral disse que os policiais não usarão fuzis. “Claro que não poderemos correr esse risco. Apesar de o inimigo estar armado com fuzis, tememos pelas vidas de inocentes. A nossa estratégia será o efetivo. Serão 90 homens preparados para agir”, complementa, sem dizer qual armamento será utilizado.TopografiaO Ministério Público da Bahia (MP-BA) vê como boa a iniciativa da Polícia Militar. “É necessário, porque não adianta ter uma polícia parada. Se faz necessária a criação de uma equipe especializada para a nossa topografia, cheia de vielas, escadarias. Além disso, tem ainda a circunstância da falta de infraestrutura, que dificulta o acesso de viaturas”, comenta a promotora Isabel Adelaide, coordenadora do Grupo Especial de Atuação para Controle Externo da Atividade Policial (Gaeco).A promotora também aprova a estratégia de ocupação. “Eles estão trabalhando com a ideia de ocupação territorial. Isso parte da ideia de que existe um território inimigo, ou seja, que é necessário reestabelecer o domínio do Estado”, diz Isabel Adelaide.Mas, se o MP-BA aprova a criação do Patamo, a ONG Reaja ou Será Morto, Reaja ou Será Morta a reprova. “É uma reposta à sociedade que terá um efeito placebo. Ou seja, não surtirá efeito algum. Um tipo de polícia que emprega a punição coercitiva sempre será um fracasso”, declara Hamilton Borges, um dos líderes.“O que existe é uma lógica de segurança pública baseada na morte, no enfrentamento. Os próprios policiais deveriam ter consciência crítica”, conclui.