Trilhas: Guará Fast

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  • Aninha Franco

Publicado em 14 de janeiro de 2017 às 03:32

- Atualizado há um ano

Empapuçada de mal-estar civilizatório, fui atrás da Natureza em Monte Gordo, vizinha de Guarajuba, na estrada de praias deslumbrantes, e durante a viagem, olhando pela janela do carro, pensei que o Brasil não é um país de verdade. Que o Brasil não existe. Que essa eterna juventude irresponsável e essa fama interminável de país do futuro são qualidades ficcionais, um game onde jogamos nossas vidas fazendo arte, comércio, política e profissões que existem no planeta inteiro, mas que aqui são diferentes. Um game onde milhares de humanos são condenados à morte quando presos sem que haja pena de morte no país. Porque se nas leis ensina-se que as prisões existem para recuperar criminosos, no game acontecem Carandiru, Pedrinhas, Manaus e Rondônia. Num Brasil de verdade, mesmo nas cidades pequenas, existiriam casas para exercitar a razão. Existiriam bibliotecas, cinemas, teatros, simples, eficientes, adequados aos habitantes para que fossem exercitadas as racionalidades e se conhecessem os pensamentos que fazem da espécie racional em livros, discos, filmes. Sem isso e outros issos, os humanos são irracionais como as outras espécies. Eu sei que esse texto é óbvio e repetido, mas é porque perto de Monte Gordo, como em quase todos os outros lugares, não há casas de pensamento, há o Shopping Guarajuba que eu chamo de Guará Fast, um shopping de comida rápida que usa o idioma inglês em 95% de suas quitandas e, portanto, deve ser chamado de Shopping fast-food. Sim, bebi lá um caldo de cana maravilhoso, e havia acarajé e carne de sol oferecidos em idioma brasileiro, mas o Brasil era nada mais que isso. Ora, ora, riram os cadarços do meu tênis. Em que lugar se pensa na capital do estado? Em que lugares se pensa Brasil? Em pequenas ilhas que resistem, porque a biblioteca mais importante da Bahia apodrece sob a gestão socialista de Zulu Araújo e seu patrimônio mais extraordinário, o Pelourinho, está invadido por bandos que se autodenominam movimentos. Sem contrapontos. Casas vazias ou ocupadas por ex-moradores da Rocinha, que há nove anos foram retirados de suas casas e ainda recebem bolsas aluguéis e degradam o patrimônio material que o Ipac, encarregado de protegê-lo, não protege. O Ipac protege o patrimônio imaterial que derrete sem pensamento brasileiro. A massa crédula não reclama de nada e a massa crítica, mínima, combatida pelo poder desde sempre, não dá conta de tudo e não cresce. Daí porque o país é ficção. De volta ao game, descobri que no Verão da Baía, vitrine nacional, até Lula desceu pra fazer espetáculo de lançamento da candidatura 2018. A Baía é o que lhe resta. Se for fazer show em Minas, por exemplo, pode ser preso com o governador. Veio, evitou a Lavagem do Bonfim e encenou em ambiente fechado, só pra convidados, sem a presença do governador Rui Costa que estava tão ocupado que não pôde encontrá-lo. Se a massa crédula acredita, a massa crítica gargalha. Por que será que Rui não arranjou tempo pra encontrar com Lula? Receio de sujar a aprovação? E a campanha de 2018 no meio da convulsão dos eleitores expõe a dúvida de que haja um Brasil de verdade nalgum lugar do Brasil. E sem ela, o jogo ficará cada dia mais violento.