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Victor Uchôa

Victor Uchôa: A piada olímpica brasileira

Victor Uchôa (vufirmo@gmail.com)

Todos nós sabemos que, no Brasil, não faltam exemplos de situações que em boa parte do mundo jamais seriam aceitas impunemente. O povo cairia em cima, seria uma gritaria dos infernos, alguém seria obrigado a deixar o cargo e por aí vai. Aqui, infelizmente, o rodo passa, as piadas prontas se sucedem, poucas pessoas se abalam e a vida segue seu curso normalmente.

No que diz respeito ao esporte, o episódio da vez está ligado aos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, realizados no ano passado. Essa semana, quase um ano após o evento, os responsáveis por fechar as contas informaram, oficialmente, que não dá para fechar as contas de forma oficial. Não ria, por favor.

Sabe-se lá por quais motivos (na verdade, conhecemos perfeitamente os motivos), dirigentes que passaram pela Autoridade Pública Olímpica (APO), entidade criada justamente para gerir e fiscalizar os custos da Olimpíada, resolveram não atualizar dados que seriam essenciais para se chegar à conta final. Logo, o Tribunal de Contas da União não tem como conferir se todas as informações têm coerência.

Importante lembrar: a maior parte desse bambá gasto sem prestação de contas saiu do meu bolso e do seu. Não chore, se possível.   

Na Matriz de Responsabilidades, documento que exibe o custo das instalações esportivas e serviços diretamente ligados aos Jogos, a pancada foi de R$ 7,23 bilhões. A este valor, deveriam se somar outros gastos relacionados ao evento, chegando a uma estimativa que ultrapassa os R$ 40 bilhões. Acontece que a estimativa é feita pela imprensa, juntando valores de diferentes órgãos. O montante exato, oficial, ninguém informa.   

Tirando os pilantras que foram favorecidos com as obras (grandes empresários da construção, políticos, dirigentes esportivos e apaniguados, ou seja, os de sempre), ninguém sabe, por exemplo, quanto se gastou na arena onde foram disputadas as lutas de boxe. Tampouco se tem notícia da grana aplicada com a segurança do evento, dentro dos equipamentos esportivos ou nas ruas do Rio de Janeiro.

Como se sabe, boa parte das arenas construídas com essa dinheirama está entregue ao mofo e às moscas, fazendo da palavra legado o mais atual significado do verbete piada - é a novíssima língua portuguesa. 

Sabe a Arena do Futuro? Não? É aquele espaço todo bonito que sediou os jogos de handebol. A estrutura é desmontável e o discurso era de que, com ela, seriam erguidas quatro modernosas escolas infantis em diferentes pontos do Rio de Janeiro. No entanto, é claro que esta ideia, até agora, não foi adiante. Pior: ninguém sabe se em algum momento do futuro isso será concretizado.

A Olimpíada foi incrível - ninguém nega – e pudemos ver de perto alguns dos maiores atletas da história. Mas e aí?     

Calcula-se que são necessários R$ 45 milhões por ano para manter o Parque Olímpico da Barra da Tijuca, principal palco dos Jogos. Para isso, os gênios já cogitam fazer do espaço um grande estacionamento. Num lugar simbólico, onde o esporte deveria servir como instrumento de inclusão social e desenvolvimento humano, querem colocar carros.

A piada é essa. Agora já pode rir.  

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