Exposição de Christian Cravo mostra registro das paisagens áridas da África e seus animais

As fotos podem ser vistas na Galeria Paulo Darzé, até o dia 5 de agosto, a entrada é gratuita

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  • Ronaldo Jacobina

Publicado em 8 de julho de 2017 às 11:13

- Atualizado há um ano

A abertura da exposição Luz e Sombra e o lançamento do livro homônimo do fotógrafo Christian Cravo movimentaram a cena artística baiana que andava meio insossa. Resultado de mais de sete anos de idas e vindas ao continente africano, a mostra atraiu centenas de pessoas até a Paulo Darzé Galeria de Arte, na Vitória, na  quinta-feira. De artistas das mais diversas linguagens a apreciadores de arte, todos queriam conferir o novo trabalho do artista baiano, um dos mais importantes do Brasil, premiado e respeitado mundo afora.A mostra reúne 28 imagens em preto e branco (Foto: Christian Cravo/Divulgação)Nas paredes brancas da galeria, paisagens inóspitas e animais selvagens, registrados em preto e branco, atraíam os olhares do público. “Impactante”, dizia um. “Impressionante”, exaltava outro visitante diante do retrato de um leão imponente, registrado pelo fotógrafo em 2011, em Maasai Mara, no Quênia, e que foi propositadamente colocado na entrada da galeria para que não houvesse dúvidas de se tratar do rei da selva. Foi o quadro mais solicitado para fotos e selfies.

Em todo o espaço, leopardos - que parecem ter posado para as lentes do fotógrafo -  dividem os holofotes com girafas que se entrelaçam num balé romântico, zebras que se exibem para as lentes e têm sua própria imagem refletida na água e recortes de paisagens áridas que resultam em quadros abstratos. Imagens que  revelam a preocupação do artista com a busca da melhor luz e, claro, das mais belas sombr(Foto: Christian Cravo/Divulgação)MudançasAo todo, 28 fotografias estão expostas na mostra, que deverá percorrer outras cidades do país, a exemplo de São Paulo, em agosto, e Fortaleza, no começo do ano que vem. “Gosto sempre de mostrar primeiro os meus trabalhos na Bahia, terra onde nasci e onde tenho família e amigos”, disse Christian.

Embora essa não seja a primeira vez que o filho de Mário Cravo Neto (1947-2009) e neto de Mário Cravo Júnior expõe este trabalho, ele considera que sim. “A exposição, em formato para museus, com 40 imagens, foi mostrada primeiramente no Museu Afro Brasil, em 2014, mas num outro formato”, explicou. A mostra foi eleita pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) como a melhor exposição de fotografia daquele ano.

Sobre a escolha da África como tema desse trabalho, o fotógrafo explica que sua decisão de se embrenhar pelo continente africano chegou num momento em que buscava uma mudança estética no seu trabalho. “Foi a necessidade de me reinventar. A fotografia e a arte andam em paralelo com a vida pessoal do artista, não tem como desvencilhar?(Foto: Christian Cravo/Divulgação)Em Luz e Sombra, Christian  revela o trabalho que lhe consumiu dezenas de expedições, entre 2010 e 2016, a países como Tanzânia, Congo, Uganda, Namíbia e Zaire. “O trabalho de Christian Cravo está cada vez mais maduro. Gostei muito do formato. É simplesmente magnífica essa exposição”, exaltou o diretor de arte, fotógrafo e cinegrafista paulista Pico Garcês, que chegou de uma longa viagem e foi direto para a galeria.

Já o artista plástico Sérgio Rabinovitz, que tem uma longa ligação com os Cravo, destacou a busca de identidade de Christian. “Esse menino nasceu e cresceu num laboratório de fotografia e, claro, teve o melhor dos mestres como referência, seu pai, o grande Mário Cravo Neto. Mas ele trilhou seu próprio caminho, buscou sua própria estética e trilhou seu caminho profissional de forma autoral. Sempre soube o que queria com a arte e o resultado é esse aqui, que deixa a todos nós impactados. É um trabalho extraordinário”.

Longe do apego afetivo, a curadora e crítica de arte do Rio de Janeiro Ligia Canongia, que assina o texto que acompanha o livro, é técnica e precisa ao descrever as fotos. “Elas foram concebidas como puras formas de luz e sombra e surgem como fantasias luminescentes, que parecem desmaterializar a natureza, desestabilizar a percepção e cativar nossa imaginação para um mundo fronteiriço ao real”, escre(Foto: Christian Cravo/Divulgação)Herança benditaAssim como já fez outras vezes, quando fotografou o Haiti pós-terremoto, e a tragédia que quase dizimou Mariana, em Minas Gerais, Christian exercita seu papel de cidadão através de seu trabalho. Vivendo o auge da carreira, o artista, que morava entre Nova York e São Paulo, resolveu voltar a viver na Bahia, onde planeja ficar dois anos, para implantar o Instituto Mario Cravo Neto, em parceria com o Instituto Moreira Salles. Desde o ano passado, ele se dedica a estruturar o espaço que vai funcionar como um centro de referência e que deverá começar a funcionar nos próximos dois anos.

Considerado um dos mais importantes nomes da fotografia contemporânea brasileira, Christian Cravo já recebeu os mais importantes prêmios internacionais de arte. No currículo, premiações como o Mother Jones International Fund for Documentary Photography, a bolsa de pesquisa da Fundação Vitae e o da Fundação John Simon Guggenheim. Nesse último, na época da premiação, foi o mais jovem artista do mundo a receber o  prêmio.A exposição Luz e Sombra foi aberta, quinta, na Paulo Darzé Galeria (Foto: Marina Silva/CORREIO)Com uma carreira reconhecida no exterior, Christian já expôs individualmente no Museu de Arte Moderna da Bahia, no Museu Afro Brasil e no Instituto Tomie Othake, em São Paulo, além de outros espaços importantes como o Throckmorton Fine Art em Nova York, a Billedhusets Galeri em Copenhague.

Serviço: Imagens da ÁfricaExposição: Luz e SombraFotógrafo: Christian CravoOnde: Paulo Darzé Galeria de Arte (Rua Dr. Chrysippo de Aguiar, 8, Corredor da Vitória. Tel: 3267-0930)Visitação: De segunda a sexta, das 9h às 19h, e aos sábados, das 9h às 13h, até 5 de agostoEntrada Gratuita