No Rio Vermelho, Lálá reabre com ocupação artística de Rebeca Matta

Multiartista baiana apresenta as criações visuais e musicais elaboradas nos seus quase 20 anos de carreira até 16 de fevereiro

Publicado em 4 de janeiro de 2017 às 05:27

- Atualizado há um ano

Depois de oito meses fechado, o Lálá Multiespaço, no Rio Vermelho, reabre com a mesma proposta de três anos atrás: ser um local de experiências criativas, colaborativas e, por que não, afetivas. “Lálá é um conceito. Não é um bar, não é uma boate, não é um teatro”, defende Luiz Ricardo Dantas, idealizador do espaço. Não sendo nada disso especificamente e sendo um pouco disso tudo, começa amanhã, às 20h, a Ocupação Rebeca Matta. A multiartista baiana apresenta as criações visuais e musicais elaboradas nos seus quase 20 anos de carreira no sobrado, cuja fachada também ganhará uma sereia desenhada e pintada por ela.Rebeca Matta fará temporada de shows com repertório autoral e afetivo que marca sua carreira(Foto: Uanderson Brittes/ Divulgação)“O desenho da Iemanjá foi feito especialmente para essa ocupação. A maioria dos quadros, embora não sejam novos, será exposta de uma maneira inédita. Em tamanhos maiores que os originais, por exemplo, ou pelo fato de nunca terem sido expostos para um público maior”, explica Rebeca Matta. Com entrada franca, a noite de reabertura contará com projeção do VJ Caetano Britto e terá no comando das pick-ups os DJs EdBrass Brasil, Suzy 4 Tons e Jerônimo Sodré.Colaboração afetiva“A ideia sempre foi fazer algo com pintura e música e a gente tentou assegurar algum tipo de patrocínio para bancar os custos mínimos indispensáveis. Mas foi justamente quando as coisas ficaram mais desfavoráveis que a gente ficou mais determinado a fazer”, conta a multiartista. Para ela, o que mais a tem inspirado a fazer a ocupação é a união de forças para superar adversidades. “De um lado, tem essa força da ideia de colaborativamente fazer as coisas acontecerem, de assegurar espaços e fluxos de criação e articulação justamente quando olhamos em volta e constatamos que as perspectivas são desanimadoras em vários sentidos. De outro lado, a emoção que é mobilizar tantos afetos, que estão no que eu desenho, pinto e canto”, resume ela.Espaços do Lálá serão ocupados por trabalhos da artista, que serão dispostos de maneira inédita: a ideia é que novas pinturas e desenhos sejam acrescentados à exposição até fevereiro (Foto: Rebeca Matta/Divulgação)Na parte musical, além de apresentações dedicadas ao repertório autoral, haverá também dias em que Rebeca cantará coisas que não canta há tempos. “Fazer um show com um repertório todo autoral talvez seja uma maneira de conectar músicas e emoções de diferentes momentos e falar de coisas que sinto e penso. Fazer um show com músicas de outros autores dá uma maior abertura, mas há uma linha afetiva que dá uma certa unidade”, comenta.Rebeca  ressalta a possibilidade de se apresentar ao lado de músicos como Luisão Pereira, Thiago Trad, Ian Cardoso, Carla Suzart, Kamile Levek, Fernanda Monteiro: “Em Salvador, há uma cena incrível de mulheres fazendo música e vamos celebrar isto também”.A ocupação, que pode ser conferida até 16 de fevereiro, no horário de funcionamento da casa, é gratuita. No entanto, os shows que integram a programação e acontecem nos dias  12, 19 e 26 de janeiro e 9 de fevereiro (quintas-feiras), sempre a partir das 21h, custam R$ 20. “O Lálá nunca vai trabalhar com o pague quanto quiser. O artista precisa sair do espaço com pelo menos R$ 50 para pagar seu táxi, comer alguma coisa. Quem se apresenta aqui não se apresenta pelo cachê, mas tem de suprir as necessidades básicas. A gente tem de estabelecer essa relação de respeito com os artistas”, defende Luiz Ricardo Dantas. Fachada antiga do Lálá: Rebeca Matta fará novo desenho no sobrado (Foto: Nila Carneiro/ Divulgação)Novos desafiosCom a reabertura, um dos grandes desafios passa a ser esse: manter financeiramente o espaço com a ajuda do público. Sem patrocínios de empresas privadas nem financiamento via editais, o Lálá aposta agora, por exemplo, em um cardápio mais variado e acessível, com opções de lanches como sanduíche de pernil e empanada de sardinha. “Estamos reabrindo a casa para uma temporada experimental de Verão, a ideia é mesmo de work in progress. A partir disso, a gente vê se tem como manter o Lálá aberto com uma programação fixa”, adianta Luiz Ricardo.Se missão dada é missão cumprida, o desafio começou pra valer ainda na virada do ano, com a realização da terceira edição do Réveillon Baile Esquema Máscaras. “Fizemos uma festa com ingressos a R$ 60 e atraímos pessoas que não conheciam o lugar. Foi uma grande surpresa e acho que começamos o ano bem”, pondera Luiz Ricardo.  Responsável por reformular o cardápio, a chef Kátia Najara lembra que a intimidade com o lugar antes mesmo de ele ganhar o nome Lálá contribuiu para o sucesso da empreitada. “Lálá significa sonho em iourubá e, a partir disso e de um convite de Ricardo, criei em 2015 um sonho de maracujá, que é fruta da paixão, do desejo”, explica Najara.O Bar da Torre, no último andar, terá cardápio inspirado no mar, com delícias como a conserva de atum. “Como o mar não está para peixe, vamos fazer o melhor com o que temos. Eu sou uma cozinheira doméstica e venho defendendo a sardinha há muito tempo. A despeito do preconceito, lembra minha vó”, diz.Para a versão glam da empanada, ela usou sardinha fresca, alho-poró, tomate confitado e cream chease. A massa é integral e ainda leva pesto de coentro. No Bar da Torre, há ainda mini-hambúrgueres de peixe com chutney de cebola roxa e crostini d’alho, além de kibe de vegetais com especiarias acompanhado de ‘vinagretchen’ de frutas da estação.  No térreo, o Bar do Lálá será focado nos sanduíches de Kátia.Kátia Najara e Luiz Ricardo Dantas curtem fim de tarde no terraço; restaurante Bar da Torre terá novo cardápio inspirado no mar (Foto: Nila Carneiro/ Divulgação)